" A LAMBIDA" Fato real de Flávio Cavalcante
A LAMBIDA
Conto de:
Flávio Cavalcante
Fato, depois de uma tragédia natural numa cidadela de um iterior de Alagoas.
14 de março de 1969. Posso assegurar que o fato aconteceu com meu pai, que na época era soldado da polícia militar do local.
Faço aqui apenas uma sinopse para o leitor se situar no assunto abordado. Pois, é um fato existente em um documentário falando sobre esta catástrofe.
Pânico, terror e desespero, foram os ingredientes para muitas pessoas que lobrigaram de perto, quando as cortinas se fecharam para mais de 1.400 (Mil e quatrocentas) pessoas; fato marcante e hórrido causado pela tragédia que sensibilizou o país no dia 14 de março de 1969 na cidade de São José da Laje no Estado das Alagoas. Realmente foi algo de estupefato e extraordinário ao mesmo tempo. Nunca houve em lugar algum do país, uma tragédia igual a esta, que destruiu mais de setenta por cento da cidade e trucidou tanta gente em poucas horas de inundação. Por mais que queiramos falar sobre o assunto, jamais vamos lograr relatar a dor que cada um sentiu naquele momento de tanta consternação e pânico.
Muitos historiógrafos fizeram alguns relatos sobre o assunto, mas, faltaram minúcias de como e porque aconteceu. A maioria das pessoas anosas de São José da Laje, conta que existia uma lenda na cidade: que dizia, que foliões em época de carnaval, logo após a inauguração da matriz, dançaram na porta da igreja e daí houve uma maldição por causa deste ato tão escabroso e o padroeiro são José anatomizou a cidade; outros dizem, que quando os romeiros iam pagar promessas em Juazeiro do Norte, o padre Cícero Romão Batista, já falava neste dilúvio e que ia lavar o galo da igreja de São José e vinha exatamente para carregar uma serpente que estava enterrada no interior da igreja São Carlos; segundo ele, em relato dos anosos, a cabeça da serpente estava dentro da igreja por trás do altar e o rabo, no lado de fora nos fundos da igreja que se estendia até a margem do rio; e tocando neste assunto, entrevista com antigos, lembraram que por trás do altar existia um mausoléu de um clérigo o que dava a entender que a tal serpente seria ele. Coincidência ou não, a igreja de São José veio a baixo, lavando um galo feito de metal, um símbolo que ficava localizado no topo de sua torre. A igreja de São José ficava localizada na entrada da cidade, logo depois da ponte e segundo o povo, foi feita naquele local para São José abençoar os visitantes que chegassem na cidade. Na igreja São Carlos, onde havia a dita serpente, a correnteza da água abriu uma cratera que tinha um pouco mais de seis metros de profundidade, que dava saída para os fundos da igreja, fazendo assim, uma espécie de túnel. Ali, encontraram cerca de 250 corpos depois da enchente.
Depois de uma pesquisa profunda sobre o assunto, indo ao local onde tudo começou, entrevistas em fontes fidedignas, é que agora temos um relato completo de toda catástrofe.
Obs: Toda pesquisa está nas páginas de um documentário de Flávio Cavalcante, falando sobre a cidade e o fato.
NO MEIO DA TRAGÉDIA, UM FATO HILÁRIO
Como no meio de toda tragédia, sempre há algum fato engraçado, a Tragédia de São José da Laje, não poderia ficar atrás. Em meio do trabalho duro da recolha dos mortos, dos escombros, dos lamaçais em busca de sobreviventes, teve um caso hilário. Um dos soldados da polícia Municipal da cidade, recebeu uma missão de carregar os cadáveres em cima dos troles, pela linha na estrada de ferro, na madrugada, um dia após à tragédia. Já era noite alta, e o cenário que o tempo exibia não era nada interessante. Lá vai o soldado em cima do trole, suando mais do que tampa de chaleira, remando... remando..., Com uma montanha de cadáveres ao seu redor, colocando uma força bruta, a fim de chegar em um lugar, que pelo menos encontrasse gente. Claro que a situação do militar não era nada agradável. O pavor estampado em seu rosto não o deixava sentir o frio que a noite reinava e nem o cheiro horrendo, que saía dos corpos já em adiantado estado de putrefação. E continuava a remada do soldado; não agüentando mais o cansaço, ele parou o trole. O sistema nervoso ressabiado pela tensão, fazia com que suas pernas dançassem cambaleantes mesmo contra a sua vontade. Uma dose extra de adrenalina por causa do medo; de repente, fê-lo sentir um arrepio na espinha e uma bruta cólica abdominal, de forma que, era imprescindível imediato o alívio requerido. Sabia ele que não ia agüentar, mas o medo não o deixava afastar-se do trole. Chegou mesmo a pensar que era um aviso daqueles, que algum cadáver ia se levantar dalí. Não dando tempo nem de pensar nesse detalhe, as mãos encaliçadas do samango, desabotoava com sofreguidão os milhares de botões que compunham a sua farda e que teimava em permanecer em suas casas. E como se não o bastasse, com olhos arregalados, aquele suor gelado que lhe descia de espinha dorsal abaixo, o fazia sofrer ainda mais. Era mesmo uma situação delicada, aquela! A eminência de um desastre despejante, que resultaria em roupa inutilizada e uma fedentina dos diabos! Correu imediatamente para o mato, ficando de costas para os cadáveres e despejando um verdadeiro rio de dejeções nada perfumado. Repentinamente, o samango arregalou os olhos, esfriou por inteiro, estatelado, ante o insólito acontecimento, que quase o faz desabar por cima daquela porcaria toda. Sentiu uma língua umedecida e quente alisando sua bunda, que arrepiou o fio de cabelo dos baixos mundos, até os últimos fiapos que adornavam sua cabeça. Sua posição de sapo à beira de um brejo, não deixava pelo menos se erguer para em seguida dar o maior carreirão de sua vida. Principiou uma Reza onde misturava padre nosso, com avé-Maria e creio em Deus padre, digna da maior indignação do clero. Pediu por todo tipo de Santo para que aquilo não fosse alguma assombração! Sua imaginação tornou-se mirabolante, com tudo, nada que viesse lhe dar qualquer alento. A língua mais uma vez marcou presença. Desta vez, exatamente no alvo. As sensações se tornaram por demais estranhas, um misto de medo e erotismo. O seu lado masculino ficou ofendido. O tambuatá levantou de calças lá em baixo e duro como uma pedra. Parecia que suas pernas estavam todas enferrujadas, mas conseguiu lentamente se afastar, saiu todo arrepiado, sem olhar para trás. Mas como todo medroso é curioso e atrevido, a coragem bateu de repente, ele levantou as calças numa rapidez à prova de bala, decidiu dar um olhada relâmpago, mas, também estava decidido, a bater os pés na bunda de tanto correr e quando olhou para trás estava um cachorro saboreando as suas dejeções, ficando o soldado sem ação e tomando um grande suspiro de alívio e coragem para dar continuidade a sua missão.