Foto: Luis C Nelson

O pesado sino da torre milenar batia as Trindades, das quais eu me alheava enquanto marcava a cadência dos meus próprios passos sobre o irregular calçamento de granito a caminho de casa.

Os olhos da velha envolta em negras vestes tomaram, faiscantes, a liberdade de me condenar às penas do inferno pelo meu desrespeito às sacro-santas badaladas. Engoli em seco sentindo um calafrio. Mas, debochado, logo desatei a rir do meu próprio medo e passei a imaginar-me com a bela netinha da beata, criatura divina, boa como o milho nos seus explosivos catorze aninhos, jorrando sex appeal pelo ladrão!

Só que ao tempo eu não tinha mais que doze num corpo aparentando dez, o que definitivamente me desqualificava para qualquer possibilidade de me achar, como em mil e uma noites eu desejava, aprisionado no meio dos seus magníficos e jovens tentáculos...

O tempo correu, novo período de férias escolares me levaram à aldeia, aos dias no rio tentando pescar alguma truta e nadando como vim ao mundo nos laguinhos de plácidas e frias águas no meio das grandes rochas de granito.

A um garoto local perguntei pela belíssima netinha da velha rezadeira: “Ela foi levada daqui depois do escândalo”, respondeu com um sorriso sacana. “Aproveitando a ausência da avó ela levou para casa dois catraios de onze e doze anos e...Bom, o problema é que os garotos deram com a língua nos dentes!!”...
Luis C Nelson
Enviado por Luis C Nelson em 29/04/2009
Reeditado em 27/11/2009
Código do texto: T1565795