Simplesmente Fases
Ele se levantou e caminhou até a janela. A noite corria alta e ele viu somente a rua deserta, com alguns carros parados no meio fio e um bêbado dormindo no vão da porta fechada de uma loja.
Não olhou para a cama, de onde acabara de se levantar, não precisava. Mas, ainda com os olhos pregados na noite escura, ouviu a suave respiração que vinha dos lençóis desarrumados. E ouvindo um suspiro um pouco mais pesado notou que ela já adormecera.
Sentiu-se um pouco estranho ao se dar conta do silêncio esmagador que tomava conta do quarto, que há poucos minutos estava envolto em gritos e gemidos intensos.
Agora sim, e só agora, ele se sentia livre para olhar a lua, testemunha de tantas cenas como aquela, tantas outras vezes. E ela estava cheia, naquela noite, libertando para o mundo mergulhado na escuridão e silêncio uma luz prateada, e ao mesmo tempo, se fosse possível, intensa e tênue.
É necessário muita sensibilidade para enxergar realmente a cor da lua em algumas noites, e naquele momento, nu com os braços apoiados no vidro frio da janela daquele hotel, ele se sentia totalmente capaz de o fazer.
Ele sabia que logo se afastaria da janela, recolheria suas roupas, se vestiria em silêncio e, pegando o dinheiro que ela deixara na mesa perto da porta, deixaria aquele quarto de hotel e a vida daquela mulher para sempre.
Sentiu-se quase tonto, mas por mais um momento não conseguiu tirar os olhos da lua que brilhava alta no céu. Ela parecia olhar para ele, ora quase zombeteira, ora consternada com a situação a que chegara sua vida.
Justo ele, que já tivera a oportunidade de observá-la ao lado de uma mulher que de fato amava, que pudera espalhar aos quatro cantos do céu imenso que era um homem realizado, agora olhava a lua, na sua fase mais obscura, não sendo nada mais que um objeto, na sua fase mais tenra.
Mas sabendo onde este raciocínio o levaria, o homem se afastou da janela e começou a recolher suas roupas. Parou perto da mesa, pegou a garrafa de vinho, caríssimo, que estava sobre ela e a levou aos lábios.
Bebeu sofregamente o líquido, que desceu por sua garganta sedenta trazendo um alívio de seus pensamentos. Depois, pousando a garrafa mais uma vez sobre a mesa, pegou o pequeno bolo de notas que estava dobrado sob as chaves do quarto, e saiu pela porta, em silêncio, deixando a mulher mergulhada em um sono leve e sem culpa.
Quando ganhou a rua, o rosto do homem foi subitamente atingido por aquela luz prateada tênue e intensa. Mas o brilho da lua morreu na lágrima solitária que escorria dos olhos do homem, na sua fase mais triste.
Réplicas de meus amigos Recantistas:
Flávio de Souza: http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/1572628
Alex Ribeiro: http://www.recantodasletras.com.br/poesiasbucolicas/1565198
Helena Frenzel: http://www.recantodasletras.com.br/contoscotidianos/1564540
Maith: http://www.recantodasletras.com.br/humor/1563697
Michele CM: http://www.recantodasletras.com.br/contosdeficcaocientifica/1566941
Suzana Barbi: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1587463
Josadarck:
Isak Damasio:
Ian Morais: http://www.recantodasletras.com.br/cordel/1574102
Victor Meloni: http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/1576802
Ele se levantou e caminhou até a janela. A noite corria alta e ele viu somente a rua deserta, com alguns carros parados no meio fio e um bêbado dormindo no vão da porta fechada de uma loja.
Não olhou para a cama, de onde acabara de se levantar, não precisava. Mas, ainda com os olhos pregados na noite escura, ouviu a suave respiração que vinha dos lençóis desarrumados. E ouvindo um suspiro um pouco mais pesado notou que ela já adormecera.
Sentiu-se um pouco estranho ao se dar conta do silêncio esmagador que tomava conta do quarto, que há poucos minutos estava envolto em gritos e gemidos intensos.
Agora sim, e só agora, ele se sentia livre para olhar a lua, testemunha de tantas cenas como aquela, tantas outras vezes. E ela estava cheia, naquela noite, libertando para o mundo mergulhado na escuridão e silêncio uma luz prateada, e ao mesmo tempo, se fosse possível, intensa e tênue.
É necessário muita sensibilidade para enxergar realmente a cor da lua em algumas noites, e naquele momento, nu com os braços apoiados no vidro frio da janela daquele hotel, ele se sentia totalmente capaz de o fazer.
Ele sabia que logo se afastaria da janela, recolheria suas roupas, se vestiria em silêncio e, pegando o dinheiro que ela deixara na mesa perto da porta, deixaria aquele quarto de hotel e a vida daquela mulher para sempre.
Sentiu-se quase tonto, mas por mais um momento não conseguiu tirar os olhos da lua que brilhava alta no céu. Ela parecia olhar para ele, ora quase zombeteira, ora consternada com a situação a que chegara sua vida.
Justo ele, que já tivera a oportunidade de observá-la ao lado de uma mulher que de fato amava, que pudera espalhar aos quatro cantos do céu imenso que era um homem realizado, agora olhava a lua, na sua fase mais obscura, não sendo nada mais que um objeto, na sua fase mais tenra.
Mas sabendo onde este raciocínio o levaria, o homem se afastou da janela e começou a recolher suas roupas. Parou perto da mesa, pegou a garrafa de vinho, caríssimo, que estava sobre ela e a levou aos lábios.
Bebeu sofregamente o líquido, que desceu por sua garganta sedenta trazendo um alívio de seus pensamentos. Depois, pousando a garrafa mais uma vez sobre a mesa, pegou o pequeno bolo de notas que estava dobrado sob as chaves do quarto, e saiu pela porta, em silêncio, deixando a mulher mergulhada em um sono leve e sem culpa.
Quando ganhou a rua, o rosto do homem foi subitamente atingido por aquela luz prateada tênue e intensa. Mas o brilho da lua morreu na lágrima solitária que escorria dos olhos do homem, na sua fase mais triste.
Réplicas de meus amigos Recantistas:
Flávio de Souza: http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/1572628
Alex Ribeiro: http://www.recantodasletras.com.br/poesiasbucolicas/1565198
Helena Frenzel: http://www.recantodasletras.com.br/contoscotidianos/1564540
Maith: http://www.recantodasletras.com.br/humor/1563697
Michele CM: http://www.recantodasletras.com.br/contosdeficcaocientifica/1566941
Suzana Barbi: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1587463
Josadarck:
Isak Damasio:
Ian Morais: http://www.recantodasletras.com.br/cordel/1574102
Victor Meloni: http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/1576802