Epifania
Para entender...
Um amigo meu lançou um livro chamado Primaveras Silenciosas, que é basicamente o tipo de livro que eu gostaria de fazer - um conjunto de histórias. Uma delas chamava-se "Epifania", e narrava os últimos suspiros de um filhote de elefante. Embaixo, ele explicou que gostava de histórias cujo título fosse fundamental para total entendimento do verdadeiro significado do conto. Eu não sabia o que era "Epifania", mas depois de procurar no dicionário, achei genial.
E antes disso, eu tinha escrito uma pequena história depois de ver um documentário sobre as tais 'abelhas assassinas'. Depois de pronta, li e não gostei do resultado - achei muito sem objetivo.
Num belo dia, a professora de português pediu para criarmos um conto sobre qualquer assunto, mas que obrigatoriamente deveria envolver uma mulher, um padre e um detetive. Então dei outra chance para aquela história das abelhas, e tive que encaixar o padre e o detetive. Por fim, aproveitei o título "Epifania", que deu um significado completamente diferente ao final do conto.
Foi a primeira nota 9 que a Dona Graça me deu.
(Como sempre acontece, hoje eu mudaria algumas coisas, mas postei aqui como estava, sem alterar nada.)
Epifania: s. f. 1. Aparição de Jesus aos gentios. 2. Dia de Reis.
------------------------------------------
- Será que chegaremos a tempo? - pergunta o detetive Poirot.
- Estamos longe. Talvez demore mais uma hora. - responde o preocupado Padre Jairo.
- Você sabe de onde vieram essas abelhas?
- Outro país. Não sei por que ou por quem, mas sei que estão lá e não me pergunte como.
- Você conhece essa Alice?
- Sim. Ela é minha neta.
O carro onde os dois amigos conversam inquietos continua pelo asfalto quente em direção ao Parque Ecológico do Maracajá.
Enquanto isso, no parque, Alice prepara-se para mais uma excursão escolar, desta vez com crianças do primário. Limpa o rosto com uma toalha e mentalmente xinga, amaldiçoa aquele verão insuportávelmente abafado.
Já quase no fim da excursão, chegou à penultima área, sua preferida. Pela centésima vez na vida, falou com suspense a frase mais temida pela criançada:
- Essa é a área das abelhas assassinas, então façam silêncio.
A aflição silenciosa dos pequenos a divertia. Até que:
- Tem uma abelha assassina na mochila dela! - desesperou-se um menino aos berros. Alice controlou o medo do grupo que agora estava ainda mais aflito. Sabia que o parque não abrigava nenhum tipo de abelha, mas surpreendeu-se ao constatar que realmente havia uma abelha ali. Outra menina gritou de uma dor que parecia insuportável, e logo, várias abelhas apareceram voando ao redor.
Ao picar alguém, o veneno de uma abelha assassina libera um odor que atrai o resto do enxame.
Agora todos estão correndo em busca da saída. Alice foi picada na perna e por reflexo, abaixou-se durante a corrida e num tropeço, arrebentou a madeira podre do corrimão onde se escorou. Caiu e bateu a cabeça numa árvore. A tontura a impediu de levantar, e em segundos, dezenas de abelhas cobriram seu corpo. Mal sentia as picadas agora.
Uma hora mais tarde, o detetive e o padre chegaram no local. Veno as ambulâncias estacionadas com as sirenes ligadas, lamentam, pois chegaram tarde demais. O detetive abre o caminho mostrando seu distintivo. Parado em frente ao corrimão podre e rachado, o padre deixa escapar uma lágrima ao ver sua neta morta.