A Oliveirinha

Era uma vez uma oliveirinha que nascera ao acaso, perdida num penhasco, entre grandes pedregulhos, rodeada de cardos, silvas e urtigas, que desde pequenina eram os seus únicos amigos e companheiros.

Como durante o seu crescimento não tivera os cuidados e a assistência necessária para crescer normalmente, pois nunca houvera uma mão caridosa que lhe deitasse um pouco de água sequer, a oliveirinha era pois um simples arbusto, raquítico, feio, composto por escassos ramos tortos e desordenados. Pelo seu tronco frágil, as ervas daninhas, o musgo e os insectos parasitas, trepavam a seu belo prazer, estes últimos, roendo-lhe as poucas folhas que lhe restavam e que afinal eram os seus pulmões, aqueles que lhe permitiam ter ainda um ténue sopro de vida.

A oliveirinha vivia muito triste e mais triste ficava ainda, quando se aproximava o Natal, pois a escassos metros dela, erguia-se um belo pinhal, com pinheirinhos de todos os tamanhos, os mais bonitos dos quais, eram procurados pelos meninos das redondezas para fazerem a sua árvore de Natal.

Alguns pinheiros mais pequenos, eram porém muito maus… (Eram como muitos meninos que eu também conheço, que gostam de troçar e amesquinhar outros meninos que, ou por terem menos dinheiro, menos saúde, ou serem diferentes e não poderem fazer a mesma vida que eles fazem, usam-nos como escárnio da sua maldade) … Assim, não era raro ouvir um ou outro pinheiro dizer para a oliveirinha: se calhar este ano, vou passar o Natal a casa de um menino destas redondezas – mas tu, coitadinha, feia como és, estás condenada a morrer aí no meio das lagartixas, sem nunca gozares uma festa de Natal…Ah! Ah! Ah!

A oliveirinha chorava, chorava, pois já há muito que sabia que o pinheirinho tinha razão, ela nunca estivera dentro de uma casa, nunca vira um presépio…

Ora aconteceu, que numa dessas tardes em que o pinheirinho uma vez mais tinha estado a atormenta-la, andava uma menina com a sua mãe, precisamente à procura de uma árvore pequena para fazerem a sua árvore de Natal. Ao passarem perto da oliveirinha, a menina disse: oh mãe olha uma árvore seca. A mãe olhando para o sítio indicado pela menina, respondeu-lhe: - seca não está, mas de qualquer modo é esta mesma árvore que eu procurava e cortando-lhe o tronco fino levou-a para casa. Uma vez ali, meteu-a num vaso grande todo enfeitado com pratas coloridas e começou a enfeitá-la. A ela se vieram juntar os seus seis filhos, alguns já crescidinhos, todos se deitaram ao trabalho de ornamentar a árvore. Primeiro, puseram-lhe aqueles anéis dourados, depois os colares prateados, aquelas bolinhas verdes, azuis, amarelas, que pareciam uns brincos pendurados, depois a iluminação e por último o algodão branquinho, a imitar a neve…

E que guloseimas, Santo Deus! Chocolates, rebuçados, caramelos, prendas, enfim uma maravilha…um sonho!

A oliveirinha não cabia em si de contente e ria, ria, ria de satisfação por estar tão linda e por ver a alegria infinita daquelas crianças que lhe davam tanto carinho e atenção e pensava: se o pinheirinho me pudesse ver, até morria de inveja…

À sua volta, doze mãos davam os retoques finais à ornamentação, compondo aqui, acolá e todos cantavam alegremente aguardando ansiosos a breve chegada do Natal e das tão cobiçadas prendas.

A oliveirinha nunca fora tão feliz em toda a sua vida. Mas como tudo o que é bom um dia também se acaba, depois da festa dos Reis, os enfeites, a bolinhas e as luzes foram retiradas e guardadas numa caixinha para voltarem a servir no ano seguinte. Quanto à oliveirinha, foi parar a uma lixeira que havia perto da casa desses meninos.

Porem quando lá chegou, embora se encontrasse já bastante fraquinha, viu com surpresa e dor que o pinheirinho que tanto troçara dela já lá estava também agonizante. Aproximando-se dele, a oliveirinha que não era rancorosa, estendeu-lhe um dos seus ramos e abraçando-o com ternura disse-lhe: como vês, eu também fui útil. Fiz 6 crianças felizes durante dez dias e vivi com eles a alegria que é a noite de Natal. Eu estava condenada à morte desde que nasci e por isso parto sem pena de deixar este mundo. Agora tu… meu pinheirinho, que eras tão belo, que tinhas tanta saúde e uma vida longa à tua frente, morres também comigo aqui nesta lixeira. Como vês, de nada te valeu enquanto viveste teres sido mau, presunçoso e teres-me humilhado tanto. O pinheirinho sinceramente arrependido pelo seu procedimento pediu humildemente perdão à oliveirinha e num abraço sincero e derradeiro, lá ficaram os dois para sempre naquela lixeira, depois de ambos terem sido úteis e terem proporcionado alegria aos meninos que gostam de fazer a sua árvore de Natal. Nesta simples história, podes aprender que nunca se deve troçar de quem é mais fraco, defeituoso ou mais infeliz que tu, pois um dia tu ou os teus, podem também cair na mesma infelicidade.

FIM

xica
Enviado por xica em 24/04/2009
Código do texto: T1557773
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