Ressentimento

Dona Rosa não chorava!

De seus olhos nem uma lágrima rolava,

Mas seu peito arfava, arfava, arfava...

Seu filho Zé, deitado, peito desnudado

Eu vi, com meus olhinhos, chocado,

Brutalmente dilacerado, esfaqueado, esfaqueado!...

“Foi o futebol!...do futebol a discussão!

Malandros! Meteram uma faca no seu coração,

Demônios! Mataram o Zé! Que judiação!”

Silenciaram a “Requinta”!!

As melodias do Zé “Requinta”, filho de Dona Rosa e do Sô Abílio “Chocalho” agora só serão ouvidas pelos Anjos do Céu, que o acompanharão com harpas douradas!

Sentado no quintal do vô Oliveira, noite quente e escura de verão, eu escutava os soluços e lamentos substituindo as notas fascinantes que costumavam brotar da varanda do Zé e fluíam pelas ruas estreitas, sombrias, milenares, da aldeia perdida.

***

Transportei pela vida indeléveis, sons e imagens daquele pungente drama que a mim também atingiu, apaixonado que era por escutar as belíssimas melodias que o Zé, músico extraordinário, extraía dos instrumentos que tocava.

Transportei pela vida ressentimento e acusação surda ao futebol...