O Marinheiro
Eram profundamente tristes, os olhos daquele homenzinho franzino, de rosto descorado e doente, que jazia sobre o estreito beliche da diminuta cabine, maldosamente fria e claustrofóbica...Seu peito arfava e contraía-se com dores, enquanto balbuciava entrecortadas palavras.
Com o coração dilacerado, ajoelhei-me ao lado do leito e escutei suas queixas, sentindo sua mão agarrar a minha mão, como se a minha mão fosse sua última esperança de ajuda para sobreviver àquela miseranda situação de abandono, a que os caminhos da vida e da necessidade o conduziram.
Enfrentei então o comandante e seu imediato, espécie de trogloditas que eu julgava extintos com o fim da escravatura, que mantinham seu convencimento de que o marinheiro estava, “como era usual nos espanhóis”, se fazendo de doente para não trabalhar! Agilizei os serviços de saúde do nosso estaleiro, onde o navio se encontrava em manutenção, não tendo o par de bestas outra alternativa senão a de autorizar a remoção do pobre homem para o hospital, onde foi operado e rodeado de cuidados até sua total recuperação.
Pepe retornou à sua Andaluzia sem que eu o voltasse a ver, mas tenho bem presentes seus pequenos olhos me fitando e sua voz enfraquecida repetindo “Gracias, gracias por todo”, enquanto era colocado dentro da ambulância...