O homem de um só livro

Carlos acredita que a leitura enobrece a alma e nutre a inteligência de um indivíduo. Assim como muitos, ele é um trabalhador esforçado e dedicado, sendo extremamente firme e convicto em suas opiniões.

Desde pequeno quando ganhou um livro do seu pai, considerava tudo que estava escrito naquelas páginas como algo sagrado e sempre que tinha uma dúvida, consultava imediatamente suas informações.

Quando falava sobre um tema, tudo era direcionado para o seu volumoso e querido livro, sendo aquele objeto sua verdade absoluta. Das regras contidas naquela escritura não fugia e saia bitolando suas opiniões em qualquer lugar que alguém estivesse disposto a ouvi-lo.

Por apenas conhecer aquele livro, chegava ao ponto de achar uma biblioteca inteira sem graça e insignificante. Com o tempo começou a se tornar arrogante e moralista. Detestava ser contrariado quando o assunto estava relacionado com aquilo que defendia. Quem fugisse do seu padrão de pensamento era considerado um criminoso ou no mínimo um pobre coitado.

Hoje Carlos não é mais um cidadão comum, tendo alcançado o poder, continuou com o seu velho livro debaixo do braço. Para subir na hierarquia teve que ler outras obras. Elas eram lidas apenas para serem aplicadas em provas e testes ou quando um determinado assunto era necessário para sua profissão. No geral o conteúdo de cada um deles era ignorado e pouco utilizado em sua vida.

Esse homem se tornou perigoso, fanático e alienado. Acreditava tanto naquilo que lia que com seu carisma, começou a doutrinar outras pessoas a seguirem suas doces palavras. Muitos ficaram encarcerados e escravizados pela filosofia de Carlos. Por mais que possam aprender sobre algo, sempre serão limitados pela visão distorcida daquilo que consideram como verdade absoluta.

Pessoas como Carlos, geram uma nação de um só livro, uma só opinião e uma só cultura. Eles varreram a inteligência do mundo e a ignorância comanda suas vidas.

Ler e acreditar apenas em um livro, frase ou idéia é o mesmo que um passáro que canta e que é feliz vivendo preso em sua pequena gaiola, desconhecendo uma realidade vasta e maravilhosa que existe lá fora.