Sabores da vida

Alexandre, nasceu em uma periferia pobre da cidade de Itabuna na Bahia. Filho caçula de oito irmãos, todos ajudavam o pai vendendo bugigangas na avenida cinqüentenário.

O menino, ainda era muito pequeno e ficava em casa ajudando sua mãe e sua tia a cozinhar. Gostava dos aromas e dos apimentados e coloridos temperos que elas faziam e sua felicidade transbordava quando fazia comida tendo que se virar com o que tinha. A primeira coisa que aprendeu a fazer, foi bolinhos de chuva. Foi correndo contar a novidade para o pai.

Seu pai logo começou a recriminá-los dizendo:

- Nem parece meu filho, está parecendo uma mocinha na cozinha, vou comprar um vestidinho e mandar você fritar bolinhos, pois é a única coisa que sabe fazer na vida!

Sentiu um vazio que começou a consumi-lo por dentro. No dia seguinte foi obrigado a ajudar no comércio. Porém era muito desligado, tímido e atrapalhado. Começou a dar mais prejuízo do que conseguia ajudar a sua família, ele dava o troco errado, não vendia nada e sempre estava desanimado. Um dia seu pai furioso, apontou o dedo indicador na sua cara e cuspiu a seguinte frase:

- Vai para casa e continue fritando bolinhos!

Desamparado pegou raiva da cozinha. Logo sua tia interferiu, dizendo que dentro de casa ele teria que ser útil.

Voltou a ajudar a sua mãe e sua tia. Depois de um tempo voltou a tomar gosto pela coisa. Seu pai agora com a ajuda dos seus irmãos o provocava em um desumano e perverso coral.

Naquela época só sabia fritar bolinhos, sendo que era apenas um ajudante na cozinha, mas logo quando sua mãe começou a vender comida para os botecos e alguns restaurantes. Determinado, ele começou a se aprimorar e aos poucos o seu tempero estava ficando mágico e diferenciado.

Mas tudo mudou…

Com a morte do seu pai e um ano depois a da sua mãe, ficou na extrema miséria e com apenas quinze anos fugiu para São Paulo, indo apenas com a roupa do corpo. Virou menino de rua, para não morrer de fome começou a roubar. Logo foi pego pela polícia e levado para uma unidade da Febem na Vila Santana. Mesmo o ensino sendo precário, foi lá que começou a estudar e aprendeu a ler e escrever. Tomando iniciativa, se tornou o cozinheiro daquele lugar.

Afastou-se novamente da cozinha, quando começou a trabalhar em um escritório de contabilidade para poder sobreviver. Continuava atrapalhado e detestava o que fazia, mas foi agüentando e segurou um dinheiro para poder pagar um curso de gastronomia.

Desde aquela época nunca mais parou, começou trabalhando em uma lanchonete, depois em pequenos restaurantes, depois em lugares tradicionais e respeitados. Venceu diversos concursos gastronômicos. Só sossegou quando se tornou um Chef Boulanger, sendo que agora ele estuda a fundo a gastronomia molecular e a tecnologia de manufatura de pães. Tornou-se especialista quando se formou pela escola The French Culinary Institute em Nova York.

Hoje atua em projetos nas escolas de periferias, no qual organiza cursos profissionalizantes, no qual ajuda pessoas carentes que pretendem ingressar no mercado de trabalho.

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E naquela tarde quando levou os bolinhos até a mesa e recebeu um tímido

elogio do seu pai, percebeu que aquele prato era a coisa mais importante de sua vida, mesmo após eles terem sido comido segundos depois pela sua esfomeada família, vítimas de uma fome atroz que há três dias o castigavam.

Entre temperos amargos e doces, Alexandre vai sentindo na vida todos os sabores. E agora com o animo de quando experimentou o seu prato de comida preferido pela primeira vez, que na sua simplicidade mais pura ainda continua sendo aqueles bolinhos de chuva.