CONDUÇÃO NOVA
CONDUÇÃO NOVA
Arvoredo era uma cidade bem bonitinha, agradável e hospitaleira, mas era uma cidade pobre porque atolada no passado não tinha acompanhado os avanços da industria e da tecnologia, não tinha nem uma fabrica, o comercio era restrito, as ruas esburacadas e a pobreza era quase geral; o povo se dividia entre donos de terras e os sem terra.
A luta pela vida era desigual porque o trabalho era pouco e as necessidades muitas e os jovens que conseguiam sair para estudar fora, não podiam voltar para casa ao se formarem, tinham que continuar longe de suas famílias para trabalhar e sobreviver, mas a maioria nem isso conseguia e essa era a situação da cidade de Arvoredo.
Toda a comunidade sabia das precárias finanças do município, menos o eternizado prefeito do lugar, porque ele se queixava das dificuldades quando o interesse era da população no que se referia a saneamento, saúde, educação e tudo o mais que uma cidade e seu povo precisa para viver com dignidade.
Quando o assunto era seu interesse particular e seu conforto pessoal, ai a conversa era outra, ele se esquecia das propaladas dificuldades e partia para as exigências descabidas, como dar festas bombásticas para amigos e correligionários e fabricar cargos muito bem remunerados para seus parentes.
Tudo isso passava batido como é de praxe em pequenas comunidades, onde os donos do poder deitam e rolam sobre e com o suado dinheiro publico, obtido de uma população de parcos recursos, mas que se esforça para pagar seus impostos como manda a nem sempre justa lei, que privilegia os ricos.
O pacifico povo de Arvoredo já cansado dos abusos de seu prefeito, perdeu a paciência quanto o vaidoso alcaide exigiu um carro zero quilometro para seu uso e resolveu atender ao descabido pedido, mas de maneira diferente do esperado e promoveram uma festa para a entrega da nova condução de Sua Excelência.
A compra da condução foi feita em sigilo absoluto e no dia da grande festa armou-se um palanque para os discursos com banda de música e tudo o mais que a ocasião pedia, com o povo todo na principal praça da cidade, deram a palavra ao ilustre e exigente prefeito que agradeceu de antemão as homenagens.
Terminado o lindo improviso decorado da importante pessoa, chegou afinal a esperada hora da entrega do presente da comunidade a seu amado dirigente, a banda atacou uma marcha militar e puxada por um cidadão vestido de palhaço, a condução marchou até o palanque e foi solenemente entregue.
O povo gritava, ria e vaiava, porque a condução era uma burro baio muito bem arreado, com um cartaz preso no lombo que dizia: Para nosso ilustre prefeito a condução que ele merece, vão se dar muito bem; foi um vexame histórico, até os jornais da capital noticiaram o acontecido que virou anedota.
Nunca se soube de quem foi a brilhante idéia de trocar o carro zero pelo burro e a autoridade botou uma pedra sobre o assunto bem depressa, ele só queria esquecer o humilhante acontecimento, mas o melhor foi que ele desistiu correndo do carro novo e ficou o feito pelo não feito e o povo continua rindo.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no Eda