Este conto é dividido em dez capítulos: 1 ao 9 e Epílogo.
Todos publicados.



Labirinto

Epílogo






Desta vez, Catherine a aguardava. Paula entrou na sala e sentou-se diante dela, agora uma jornalista formada. Várias coincidências ligavam as duas mulheres. Eram colegas, seduzidas pelo mesmo homem e passaram a viver de  uma forma completamente diferente após o encontro com o arquiteto.

Um ano e meio depois de encerrar seu romance com Antonio, o convite para participar da tese de Catherine sobre biografias, fez Paula rever a interrupção do livro. Numa espécie de retribuição, a ex-garota de programa aceitou entrevistá-la para o último capítulo do livro. Enfim, Antonio teria sua biografia completa. Ironicamente, Paula encerraria a obra pelas mãos de Catherine.

- Podemos começar?

Paula sorriu com a pergunta. A garota era ainda mais segura do que ela jamais seria em muitos anos de profissão.

- Tenho ainda algumas dúvidas. Mas vou arriscar. Estou em suas mãos agora.

Catherine foi direto ao ponto:

- Por que interrompeu a biografia?

- Porque me apaixonei.

Catherine lembrou-se de sua própria experiência com Antonio e disse:

- Você foi mais inteligente. Eu trabalhei apaixonada.

Paula foi sincera:

- Sua experiência me ensinou muito. Se eu tivesse trabalhado apaixonada, o livro não seria justo.

- Com o leitor?

- Com todos. Com o leitor, o biografado e a autora.

- Você consegue falar sobre ele agora?

- Acho que sim. Antonio me surpreendeu. Esperava um sedutor compulsivo e encontrei muito mais do que isto.

- Um homem que entra em sua vida e a vira do avesso?

- Não sei se do avesso, mas Antonio tem o dom de transformar a vida de quem cruza com ele.

- De que forma?

- Em primeiro lugar, descobri que não quero mais ser biógrafa. Quero ser cineasta. Fui fazer cinema. E descobri isso com ele. Estar com Antonio é viver em movimento. Ele é um homem que age o tempo todo.

- E raramente reage, notou?

Paula riu. Era verdade. Todas as reações sempre foram dela.

- Acho que, no fundo, ele precisa estar no controle porque tem necessidade de dirigir sua vida a qualquer custo. Antonio simplesmente não suporta a idéia de ter seu caminho nas mãos de terceiros, de ser conduzido ao invés de conduzir, enfim, não existe o menor traço de passividade em seu caráter. Talvez por isso, ele seja tão sedutor.

- O que você aprendeu com Antonio?

- A ser melhor e, ao mesmo tempo, deixar a idéia da perfeição para Deus. Antonio me ensinou a ser imperfeita. Por isso, retomei o projeto do livro. Aceitei que a interrupção não me tornava uma escritora menor.

- Quanto tempo durou o romance?

- Quase um ano. Foi intenso e mais breve do que eu gostaria.

- Por que não ficaram mais tempo juntos?

- Provavelmente porque fui previsível demais para ele. Antonio não suporta estar com alguém totalmente familiar. Talvez eu seja mais simples do que supunha ou menos interessante.

Catherine não estava ali para poupá-la:

- Você ainda não aprendeu a ser imperfeita! Antonio terá que continuar as  aulas!

A risada de Paula soou espontânea. Catherine era capaz de entendê-la e aquilo parecia insólito e ao mesmo tempo, reconfortante. A jovem jornalista, então, perguntou:

- Quer saber minha teoria a respeito dele?

A escritora não resistiu à curiosidade e respondeu em tom de brincadeira:

- Apesar do espaço, teoricamente, ser meu, sim.

- Nunca saberemos quem é Antonio. O que ele deixa transparecer é o nosso desejo. Antonio intui, simplesmente, o que queremos e passa a representar, enquanto for interessante, o papel aberto em nossas vidas. Ele reconhece espaços e os ocupa.

A verdade pode ser simples. Lembre-se disso, Paula, quando encerrar seu livro.

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 17/04/2009
Reeditado em 17/04/2009
Código do texto: T1543807
Classificação de conteúdo: seguro
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