Este conto é dividido em dez capítulos: 1 ao 9 e Epílogo.
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Labirinto

  Capítulo 2



Na semana seguinte, a irmã do arquiteto se dispôs a falar. Claudia, treze anos mais jovem e totalmente diversa de Antonio, era apegada aos pais, separada pela segunda vez e no momento morava na mesma residência do casal.

Paula não precisou questioná-la. A irmã aproveitou o espaço para exibir sua teoria a respeito do arquiteto:

- Antonio é genial. Nunca brigamos, mas acho que dei tantos motivos que ele achou mais inteligente me ignorar. Meu irmão tem um senso de economia interessante. Não tem tempo a perder com quem não pode medir forças. Eu nunca fui um exemplo de autonomia. Acho que por ser filha temporã, fiquei abusada mesmo. Tive pais mais dóceis do que ele. E com isso, todas as regalias. Sou quase uma netinha ao invés de filha. E meu irmão assistiu tudo calado. Via as regras serem mais duras para ele, enquanto para mim tudo sempre foi tão simples. O que posso esperar dele?

A escritora arriscou:

- Distanciamento?

A irmã riu antes de responder:

- Isso é o que ele diria: distanciamento. Um termo tão elegante! Antonio é fascinado por quem tem classe. Cuidado! Ele pode achar você perfeita!

Paula interrompeu, desta vez em tom mais formal:

- Podemos prosseguir?

- Claro. Desculpe. Meu mano tem fama de sedutor. Vi dezenas de mulheres ligarem aqui em casa quando ele era mais jovem e morava conosco. Eu era uma criança e me divertia ao ouvir na extensão.

- Pessoas interessantes são naturalmente sedutoras.

- Nada em Antonio é natural. Se quiser entendê-lo, aceite isto. Meu irmão sabe exatamente que passo dará, o sentido e a intensidade. Talvez ele tenha escolhido a Arquitetura porque projeta tudo na sua vida.

- Você quer dizer calcula?

- Acho que sim. Nunca vejo Antonio espontâneo... Bem, talvez com ela...

- Ela?

- A grande paixão da vida dele. Uma artista plástica que ele conheceu no último ano da faculdade. Garota alegre e ao mesmo tempo, elegante. O sonho de consumo dele, mas sabe como é... Era jovem demais e inconstante. Deixou Antonio com gostinho de quero mais e acho que no fundo ele nunca se recuperou... – e Claudia parecia ter a chave do enigma ao concluir: por isso, ele se especializou em seduzir! Alguém que ele desejava muito não o quis mais! Essas conquistas devem ser...

Paula completou:

- A história de Don Juan?

- E não faz sentido? Veja! Um homem que sempre teve todas que desejou e de repente, esbarra em alguém realmente interessante, muito próxima da fantasia dele que desaparece como entrou: fulminante. Meu irmão teve que conviver com a ausência dela e a buscou em todos os rostos que passaram por sua vida. Seduzir, neste caso, é quase uma forma de estar perto daquela mulher.

- É no mínimo uma teoria intrigante. Teu irmão me diria o que pensa sobre isso?

- Antonio? Nunca! Nem ouse!

- Mas é uma biografia autorizada. Ele sabe que estou entrevistando a família, amigos, amores.

- Ele sabe. Você sabe. Eu sei. Mas quem te disse que isso faz alguém como meu irmão admitir qualquer coisa? Antonio não gosta de quem o entende.

- Finalmente uma coincidência: tua mãe disse isso!

- O que já seria suficiente para você não levar em consideração. O que mãe fala de filho, não se escreve!

Paula sentiu-se tola diante da sonora gargalhada que se seguiu àquela observação, mas não havia tempo para isso. A tal artista plástica iria atendê-la em uma hora.


Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 17/04/2009
Reeditado em 17/04/2009
Código do texto: T1543797
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