Este conto é dividido em dez capítulos: 1 ao 9 e Epílogo.
Todos publicados.


Labirinto


   Capítulo 1




Paula detestava admitir, mas estava diante de um labirinto. Aquela biografia transformou seus últimos meses na busca por um sentido mutável. Seu editor a convenceu de que Antonio tinha o perfil ideal para o livro. O arquiteto que revolucionou a otimização de espaços era um sujeito interessante e avesso a exposições. No entanto, parecia entusiasmado quando consultado a respeito da obra.

Por um lado, as fitas com o conteúdo das entrevistas, uma espécie de jogo de contradições e por outro, os entrevistados que exibiam combinações antagônicas. Afinal, quem é Antonio?

A mãe o descreveu com um sorriso:

- Sou suspeita. Mãe vê o que ninguém pode enxergar, ou talvez apenas o que queremos, mas se você quiser saber mais de Antonio será uma tarefa, no mínimo, exaustiva. Meu filho é muito mais do que aparenta ser e não vai gostar de saber que alguém o vê e entende.

O pai ouvia calado. Paula prosseguiu com as perguntas:

- A senhora acha que esta visibilidade o incomoda?

A mulher refletiu antes de responder:

- Acho que Antonio é a personificação do instinto de preservação. Mostrar-se é seguir na direção contrária, então, quanto mais você se aproximar, mais ele escapará.

O homem retrucou:

- Você é muito generosa, Eneida. Nosso filho é centrado em si mesmo. Não está interessado no que achamos dele nem precisa de nossa aprovação. Há muito tempo cortou o cordão umbilical.

Paula aproveitou o momento:

- O senhor o acha egoísta?

- Não o entendo a este ponto. Na verdade, algo em Antonio me irrita profundamente.

Eneida não se conteve:

- E ao mesmo tempo te orgulha!

Enquanto observava o casal, a biógrafa pensava como uma pintora. Seria capaz de desvendar os traços e as cores daquela personalidade e exibi-los numa tela? Era preciso entender a luz, a perspectiva e as proporções para retratá-lo. Ouvir os pais lembrava um esboço em tons contrastantes.

Antes de encerrar a entrevista, Paula formulou a última pergunta:

- Se o senhor pudesse qualificar seu filho com apenas um adjetivo, qual usaria?

O pai não pensou para responder: independente.

- E a senhora?

O silêncio da mulher merecia ser traduzido no prefácio do livro. Depois de alguns minutos, Eneida definiu:

- Singular.

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 17/04/2009
Reeditado em 17/04/2009
Código do texto: T1543796
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.