A puta dos meus sonhos

Às dez e tantas chegamos ao recinto. Eu e mais dois amigos. Uma senhora, aquartelada por três homens negros, fortes e de rostos bruscos e pouco amistosos, fazia hora à porta dando boas vindas e gravando o perfil de seus clientes. Os carros paravam à frente da casa aos jorros. Senhores bem vestidos e sérios saiam das suas máquinas, acompanhados por um ar de sem cerimônias e de muito garbo. A senhora esticava até aonde não podia o seu sorriso para poder cumprimentar a altura essas tais figuras. Alguns a correspondiam; outros, nem faziam caso daqueles sisos. Mas muito embora tenha sido desdenhada por muitas vezes, mantinha há anos a sua velha tradição da boa receptividade e dos longos sorrisos.

Apesar de ter sido a nossa primeira vez ali, a velha não nos poupou os cumprimentos e logo ofereceu-nos a mão para que pudéssemos beijá-la. E, assim, se sucedeu. Noberto, amigo meu de temperamento alegre e por demais altivo, tomou parte primeiro e tascou um beijo demorado e seco na mão da velha. Encantado estava ele por ver tantas luzes e por ter ouvido muitos comentários a respeito daquele lugar. Antes mesmo que, nós outros, eu e o Elias, acabássemos a rasgação de seda com a velha, ele, Noberto, já se encontrava na porta principal de olhos regalados e cimentados nas belas moças que, ali, faziam vida – ou melhor – tiravam o seu sustento. Cumprimentos acabados, nos direcionamos para a porta principal onde se encontrava o Noberto. Dei-lhe um tapinha nas costas e entramos. Por sorte, encontramos uma boa mesa que ficava um tanto em conformidade com palco principal, onde, a cada meia hora, uma mulher começava a escorregar e se despir jazendo e se contorcendo sobre uma haste longa, lisa e de metal cromado. As mulheres que ali escorregavam eram escolhidas de forma aleatória; tanto, que quando chegamos, tivemos a má sorte de nos depararmos por três vezes seguidas com mulheres – ou senhoras – de carne nem tão rija e de beleza um tanto duvidosa. Mas, passadas essas três, quando já nos encontrávamos na quinta garrafa de cerveja, uma verdadeira beldade deu cintilância ao palco, espalhando por todo ele o seu brilho. O locutor, que apresentava as mercadorias à clientela, foi logo elucubrando o nome de guerra de tão distinta moça “Cassandra”. E, depois das apresentações, uma salva de palmas em uníssono misturada aos gritos ácidos e loquazes dos que ali se faziam presentes, tomou conta do salão e, ao som de um pop bem alto e dançante, a rapariga deu início ao seu ofício.

De início, esquivou todo seu corpo, tendo a cabeça quase topada no chão e formando uma espécie de ponte irregular. Vestia-se numa roupa totalmente depravada e bem instigadora que, em vez das cores pesadas e dos tecidos finos e caros, era confeccionada com um tecido leve e bastante transparente. Tão transparente, que não avistar sua genitália e os seus seios leitosos, era fato impossível. Todos, os homens, ficavam loquazes com aquilo, e ouviam-se muitos gritos empossados de loucura e satisfação, como os de uma criança no parque de diversões. Os senhores que na véspera mostravam-se muito lustrosos e comportados, de vez perdiam a cabeça e começavam a atirar notas de dinheiro no palco e emborcavam garrafas e mais garrafas nas suas bocas, vertendo toda aquela garbosidade em atos insanos de garoto libertino e tarado por sexo. A senhora alegrava-se muito com isso, ao ver que o seu lucro excederia o lucro das noites anteriores. E, para maior satisfação e gasto dos seus clientes, punha no palco mais mulheres suaves e bem torneadas depois do espetáculo desta última.

Meus olhos não conseguiam desviar o foco para outro lugar do salão que não fosse aquele palco. Impressionei-me deveras com a corpulência daquela mulher e, dali em diante, comecei a desejá-la incondicionalmente e sobre e sob todas as coisas. Elias não estava nem aí. Divertia-se demais ao ver todas aquelas vaginas desfilando abertamente pela casa. A sua euforia era tanta que não conseguia concentrar-se em uma somente, senão desejava e queria meter sua vara em todas, como ele repetidas vezes nos dissera. Noberto, apesar de animado no começo, parecia um pouco mais sério a este momento. Guardava o seu regozijo para si e continuava bebendo ao ritmo dos cavalos e do pop.

Antes mesmo que o show da beldade acabasse, disse aos meus caros que àquela noite comeria tal mulher, que meu testículo imensamente desejava penetrar tal carne, que, se não o fizesse, poderia morrer por força do arrependimento e da insatisfação mais tarde. Acho que o meu sangue nunca correu tão temperante nas minhas veias como naquele dia. Ela dançava, dançava e dançava. Seu corpo Luzia em cores alternadas, ora amarela, ora azul, ora vermelha e ora piscando sem parar. As suas mamas tinham bicos rosados que pareciam duas flores de primavera apontando pra mim e para todos. Mas ninguém as desejava como eu. Abandonei a mesa onde estávamos sentados e me misturei aos velhos magnatas. Queria contemplar aquilo de perto. Todos dançavam, fumavam e bebiam muito. Eu, não. Eu fiquei paralisado e deixei que a minha imaginação e o meu desejo pudessem tocá-la. Deixei com que ela percebesse o quanto a queria. E ela percebeu. Viu que os meus olhos não desgrudavam dos seus movimentos, tampouco das suas formas. E assim fiquei até que o show findasse.

Tendo a música parado e o seu espetáculo acabado, de novo voltou a soar as palmas e os gritos entorpecidos. Os velhos prosseguiram com o arremessamento de notas e a beldade esquivou-se, nua, num gesto de agradecimento a todos e se foi por detrás das cortinas e o palco retornou ao seu escuro de intervalo.

Corri ao guichê onde se comprava os ingressos para se transar com alguma garota. Uma fila formada por uns seis caras, já estava formada. E todos objetivavam a mesma coisa: foder com a Cassandra. O vendedor explicava que a mesma só iria atender mais tarde, pois precisava de descanso e, àquele momento, deveria está tomando um banho para recompor as energias perdidas no sucedido espetáculo. No entanto, um fanfarrão qualquer – primeiro da fila –, deu sorte e pegou, logicamente, a primeira senha para ter o prazer com a tal. Eu, vendo aquele mal sucedido, tive de me conformar e não criei caso; deixei a fila e retornei a mesa onde estavam os meus amigos sentados. Chegando lá o Noberto me perguntou se eu não iria comer a mancebinha. Disse-lhe que a fila estava por demais grande e que, no mais, o que não faltava ali, na casa, eram boas garotas; se bem que a Cassandra era boa demais e todas as outras eram muito simples para a grandiosidade do meu desejo.

Jean Maldit
Enviado por Jean Maldit em 16/04/2009
Código do texto: T1543412
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