UM CORPO NO CHÃO DA SALA
Toquei de leve a campainha. Minhas mãos suavam segurando o revólver calibre 38, que brilhava sob as luzes do corredor do prédio. Pensei por alguns segundos que tudo aquilo era loucura, mas minha cabeça não estava preocupada, só pensava em matar aquela vagabunda e sair dali. Minhas mãos tremiam, meus olhos ardiam, meu coração batia forte, desesperado. O momento era este, não poderia mais ser adiado.
Uma voz respondeu lá de dentro:
- Quem é?
Eu não queria responder.
- Quem está aí? – indagou de novo a voz.
Era uma voz de mulher. Anita era seu nome. Era. Nunca mais voltará a ser, porque mortos não têm nome. Mortos só têm uma fotografia que identifica seu lugar no cemitério, e isso basta, já é suficiente.
A voz de Anita ainda soava muito sensual. Acredito que foi por isso que me apaixonei perdidamente por ela. Agora isso não tem mais importância. Agora sou só eu e meu revólver á espera de uma explicação. Mas eu não quero explicações.
A porta finalmente abriu-se e, então, deparei-me com ela. Estava linda, saía do banho, enrolada na toalha branca, os cabelos caídos sobre os ombros, os seios ainda rijos como nunca. Sua pele deixava escapar um frescor delicioso. Por uma fração de segundos pensei em dizer que estava linda, mas não, preferi me manter calado, observando aquele rosto angelical de Anita. Pobre Anita. Tivesse ficado comigo e seria mais feliz. Mas escolheu me trocar por um magricela qualquer.
Ela me fitou intensamente e disse:
- Você?... Aqui?...
Foi só o que conseguiu pronunciar. Dei-lhe um tiro bem entre os olhos e ela tombou sobre o carpete da sala. Sua toalha ficou manchada de sangue.
- Acho melhor você tomar outro banho, querida. – Falei.
E tudo o que me separava da dignidade de homem domesticado era meu dedo pressionando o gatilho e aquele corpo estendido no chão da sala.
Desci as escadas assoviando uma canção qualquer.
Mauricio Novais
14/4/2009