UniVitelinos
Rosa Pena
O que parecia difícil aconteceu. Luíza descurtiu Edu, amor infinito, além do horizonte. Afinal não é para lá que se vai quando morremos? Morreu! Morreu da rotina em escala industrial, morreu atropelado na ida ao cineminha básico aos sábados, no pentelho achado no sabonete que deixou se ser engraçado, na palitada nos dentes bem na frente da prima chiquérrima, na resposta Você é quem sabe, pra mim tanto faz, no telefonema exatamente às 13 horas, nem um minuto a mais, nem um a menos, no sexo Vem cá no colinho do papai (seu pai está morto e ela nunca quis ser Electra), na tintura do cabelo que não foi percebida, na camisola atrevida vista como um pijaminha de flanela com estampa da Hello Kitty, na cara de bunda pro arranjo de margaridas na sala, no provocante incenso almíscar que ele, por total falta de senso, imagina que é pra tirar encosto, nas piadas de mau gosto Você tá com o quadril da Marisa, quando ele tá cansado de saber que ela acha que a Marisa precisa urgentemente de Herbalife, na hora em que luz de vela só acontece em enterro ou apagão, vinho só em Natal e na pior descoberta, que na mesa não há mais um casal, apenas dois iguais. Nada para cortar a carne, apenas garfadas insípidas, ali, aqui, a mágoa engolida inteira. Virar Sandy & Júnior depois de ter sido Nara Leão & Bossa Nova?
Mulher alguma consegue olhar pra si própria e ver tantos defeitos, mulher alguma consegue ser, apreciando o seu lado mais feio na hora do jantar. Ou parte de vez ou desiste de tentar comer àla Carte. Um hambúrguer no McDonald's de um shopping. Todos idênticos na forma, no cheiro, no gosto, e não precisam de faca. Um shoppingsim, com o chão frio, passos lentos e arrastados, luzes artificiais, sonhos pendurados em cabides, ilusões em promoção, onde os iguais se reconhecem na solidão de si próprios.
Será que a gasolina dá pra chegar ao Iguatemi? É mais fácil e mais barato que um divórcio.
livro UI!
Rosa Pena
O que parecia difícil aconteceu. Luíza descurtiu Edu, amor infinito, além do horizonte. Afinal não é para lá que se vai quando morremos? Morreu! Morreu da rotina em escala industrial, morreu atropelado na ida ao cineminha básico aos sábados, no pentelho achado no sabonete que deixou se ser engraçado, na palitada nos dentes bem na frente da prima chiquérrima, na resposta Você é quem sabe, pra mim tanto faz, no telefonema exatamente às 13 horas, nem um minuto a mais, nem um a menos, no sexo Vem cá no colinho do papai (seu pai está morto e ela nunca quis ser Electra), na tintura do cabelo que não foi percebida, na camisola atrevida vista como um pijaminha de flanela com estampa da Hello Kitty, na cara de bunda pro arranjo de margaridas na sala, no provocante incenso almíscar que ele, por total falta de senso, imagina que é pra tirar encosto, nas piadas de mau gosto Você tá com o quadril da Marisa, quando ele tá cansado de saber que ela acha que a Marisa precisa urgentemente de Herbalife, na hora em que luz de vela só acontece em enterro ou apagão, vinho só em Natal e na pior descoberta, que na mesa não há mais um casal, apenas dois iguais. Nada para cortar a carne, apenas garfadas insípidas, ali, aqui, a mágoa engolida inteira. Virar Sandy & Júnior depois de ter sido Nara Leão & Bossa Nova?
Mulher alguma consegue olhar pra si própria e ver tantos defeitos, mulher alguma consegue ser, apreciando o seu lado mais feio na hora do jantar. Ou parte de vez ou desiste de tentar comer àla Carte. Um hambúrguer no McDonald's de um shopping. Todos idênticos na forma, no cheiro, no gosto, e não precisam de faca. Um shoppingsim, com o chão frio, passos lentos e arrastados, luzes artificiais, sonhos pendurados em cabides, ilusões em promoção, onde os iguais se reconhecem na solidão de si próprios.
Será que a gasolina dá pra chegar ao Iguatemi? É mais fácil e mais barato que um divórcio.
livro UI!