pororoca
POROROCA
O barco motor, batizado de B/M Fé em Deus IV deslizava tranqüilamente sobre a foz do rio mar, próximo às ilhas do Baillique. Os passageiros eram caboclos da região, alguns funcionários públicos a serviço da comunidade destino de nossa embarcação, enquanto outros eram pracistas de firmas comerciais a trabalho para suas empresas, além de aventureiros pesquisadores ocasionais das coisas da Amazônia,
A conversa corria solta naquele amanhecer, alguns apreciavam as belezas da paisagem flúvio - marítimo, que se descortinava naquela manhã ensolarada, ouvia-se o cantar dos pássaros na revoada multicolorida de suas plumagens, em harmonia com o som do choque das águas em nossa embarcação, sonorizando o ambiente paradisíaco que se apresentava a nossa visão.
De repente, um silêncio sepulcral, as aves silenciaram os seus cantares e mudaram o rumo dos seus vôos, o vento parou de soprar aquela brisa de suave frescor, a leve agitação daquele doce mar, virou uma enorme calmaria. A tripulação e os caboclos da região ficaram apreensivos, a história vai se repetir em suas vidas é momento de reza e respeito à força da natureza, que está para se apresentar novamente diante desses intrépidos navegadores regionais, que passam aos marinheiros de primeira viagem, a informação do que está para acontecer, são distribuídos coletes salva vidas, enquanto que, o comandante da pequena embarcação, procura um lugar seguro dando força no motor, para sair o quanto antes, do raio de ação de maior perigo para o nosso transporte, seus passageiros e tripulantes.
Já se ouve ao longe, um barulho tenebroso do mar distante, é a força da lua influenciando as veias líquidas da mãe terra, como um rolo compressor a verde água atlântica, invade a barrenta do afluente da foz estuarina do Amazonas, como se fosse tragá-la. Esta se revolta e então acontece o fenômeno da pororoca. E aí meu irmão, é um Deus nos acuda, leva arvore, leva toco e o que na frente encontrar. É um espetáculo de rara beleza e pavor, pondo em perigo a vida dos seres vivos dessa região do planeta. Mas a natureza é generosa, e como podemos observar, dá o seu aviso, tempo suficiente para todo ser vivo daquelas paragens se abrigar e de longe apreciar o fenômeno natural que está para chegar.
Apesar de estarmos em lugar seguro, deu para sentir a grandiosidade fenomenal daquele agito da natureza, através das marolas já enfraquecidas que batiam no costado de nossa frágil embarcação, fazendo-a jogar ao sabor da maresia formada pelo rabo da pororoca, aumentando dessa forma nossa adrenalina corpórea, excitando nossos pensamentos para sobreviver àquela inesperada odisséia amazônica, uma verdadeira aventura cinematográfica.
De volta a calmaria; observamos que o estrago foi grande na margem continental; são arvores caídas, canais abertos, barrancos desmoronados, animais desalojados, ninhos boiando ao sabor da maré, enfim a fotografia de uma dura realidade, destruída pela ação desse fenômeno da natureza conhecido pela população ribeirinha como pororoca, matéria prima necessária para a reciclagem natural da vida e também do folclore sociológico regional.