O Profeta
O PROFETA.
Não há nenhum profeta. Porque os realizadores conhecem as profecias com antecedência, elas são, na verdade, planejamentos. Deve ter então, alguém trabalhando pelo fim do mundo, assim como o mundo é criado, a cada momento e a evolução acontece, a cada momento, na barriga das fêmeas grávidas e no interior dos corpos.
Profetas são professores intergerações. Professores à longo prazo. São advertidores carregados de moral, que incomodam as pessoas com suas predicações sobre as coisas que fazem. Porque o fim do mundo é certo e seguro para cada indivíduo. E não há como evitá-lo. Porque o mal está presente em cada pequeno ato juntamente com o bem. Muito cuidado com o que pensares. Porque tudo o que um homem pode pensar, um outro homem pode fazer, no futuro. O melhor, então, é não imaginar nada, não realizar nada.
O profeta é aquele que percorre os caminhos do mundo, à pé ou de carro, se consegue uma carona. Mas profeta não é. Não diz o que vai acontecer. É até muito difícil arrancar uma palavra sua. Mas uma vez que saia a primeira palavra, as demais escorregam aos borbotões. E ele não fala sobre o que vai acontecer. Fala sobre o que está acontecendo, o que muitas vezes as pessoas não conseguem enxergar.
A idéia de conforto, por exemplo, é repelida por ele. Vestir-se com sacos, cobrir a cabeça com cinzas, são formas tradicionais de penitência. Mas se sabe que os excessos da ascese são rigores que não contribuem para o caminho. Não necessariamente. Porém, todos passam por isso, achando que o sofrimento físico pode ajudar. Como a dor é uma manifestação exagerada da propriocepção, ela também serve para trazer novas forças ao medrosinho ego, para reforçá-lo mais ainda.
- Disse-o muito bem, mestre.
Seria possível que não houvesse nenhum cuidado quanto ao povo dessas terras? Seria ele, o povo, tão inferior, reunião do que há de pior no mundo, ao ponto de que nenhum ser iluminado receber a incumbência de vir para cá, assim como Bodidarma, Daruma, foi para a China? Seriam essas terras o limbo, o lugar das condenações, da expiação de pecados, o caldeirão fervente da purificação, onde só o sofrimento é capaz de salvar? Por isso para cá vieram esses degredados, esses condenados, esses escravos, esses criminosos, esses seres sem eira nem beira? Seria, mestre?
Não Subuti, porque não existe tal caldeirão. E ele está em toda a parte. Assim como não existe purificação. É por isso que se diz que estas são as terras do sofrimento. Como todas as outras terras.
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E, se não veio Bodidarma ou seus equivalentes, vieram outros mostradores de caminhos para espalhar o boa nova. O que Bodidarma podia mostrar para aimorés, tupis, caiapós, xavantes, que eram mais felizes do que ele? O que Bodidarma podia mostrar para nagôs, para aymarás? Vieram os europeus, os portugueses, para acabar com aquela boa vida. Poderiam aqueles povos continuar vivendo debaixo do sol de Nosso Senhor, respirando o ar de Nosso Senhor, a desfrutar das águas e peixes e animais e vegetais de Nosso Senhor, andando sobre o ouro e a prata de Nosso Senhor, sem conhecer Nosso Senhor, sem lavorar por Nosso Senhor, sem dedicar pelo menos uma parte do seu tempo às obras de Nosso Senhor? Não, mil vezes não. Seriam obrigados a isso. Para eles que viviam em condições selvagens, era necessário passar aceleradamente pelo processo evolucionário.
Se os povos europeus acordaram de sua letargia medieval em sua guerra com os muçulmanos, e com eles aprenderam a comerciar, e com eles redescobriram a ciência antiga dos gregos e romanos, e fizeram ressurgir os demônios do passado, em Portugal, o renascimento teve um único e grande significado: foi reinventada a escravidão. Servos estão presos à terra em que nasceram, tem com ela um vínculo indissolúvel. Escravos podem ser transportados, deportados, trasladados, vendidos e comprados como gado humano. Fazê-los passar pelo cadinho da escravidão, os tornará humanos, os converterá em bons servos do Senhor.
Esse foi o trato e o contrato. Faz-se da terra um inferno e se oferece a possibilidade de um céu, com o Senhor, com os senhores, com a Lei e o Rei, com o papa. E bom saber que temos tantos notáveis do nosso lado, a nos apoiar, a nos consolar, a nos servir de exemplo.
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Mas não, Subuti, o caminho das praias ocidentais é ilusório. É uma diversão. É um desvio. Procurar o caminho das Índias, não é procurar o caminho. Por isso se chama procurar o caminho. Porque, em verdade, Subuti, o caminho não se procura e nem se acha. O caminho é o que é, é o estar sendo. o que existe por si mesmo é o caminho. Tudo o mais são construções. São reuniões de elementos, que assim como se reúnem se dispersam, com os ventos, com as chuvas, com o tempo. Nuvens que correm rápidas pelos céus. Ondas que percorrem a flor das águas e se desfazem em alguma praia distante. Tudo o que existe merece perecer, Subuti; e tudo o que é, tem uma razão de existir. E tudo o que ainda não existe merece se manifestar, aparecer sob a luz do sol. É por isso que os planetas não param de se mover e rodar, e as gerações não param de surgir. Tantas quantos são os grãos de areia do fundo do rio Ganges. Serão tantas e muitas mais, até que todas as possibilidades tenham se manifestado.
Uma coisa me preocupa, mestre. Como deverão viver, como deverão ocupar o seu tempo, como deverão manter as suas mentes, esses moços e moças maravilhosos que surgem com as gerações e que desejem trilhar o caminho?
Disse-o muito bem, Subuti. Maravilhosos. Esses moços e moças deverão se pautar pelo seguinte: mesmo que a dor e o sofrimento sejam universais, se esses moços e moças conseguirem conduzir uma só alma vivente no rumo da bem-aventurança e da salvação, o caminho terá sido trilhado. E mesmo que isso ocorra, ninguém terá sido salvo. Porque não há quem possa ser salvo. Porque, em verdade Subuti, trilhar o caminho com a idéia de um eu que tenha substância própria é não trilhar o caminho. Por isso se fala tanto em trilhar o caminho. Se fala apenas; não se faz.
Mas mestre, e a injustiça, e a escravidão? Pode alguém trilhar algum caminho vivendo sob o jugo da cruel escravidão, ou atrás do arame farpado de um campo de concentração?
É escravidão ter que respirar, ou ter que comer para manter as suas carnes impermanentes? De uma certa forma, somos todos escravos das condições naturais. É escravidão ter que renunciar aos próprios desejos e realizar os desejos de outrem? É lícito se rebelar contra condições impróprias? É lícito matar para defender a própria vida? Mas sim, Subuti, é tudo lícito. Agir sem apego, de acordo com as condições do momento. Se um ser vivente age desse modo, o caminho está sendo trilhado. Neste caso, ele tem obrigação de ser feliz até atrás do arame farpado, como falaste. Porque, Subuti, há modos e modos. E cada um tem que verificar em que modo o seu momento se dá. Se tomas um barco, vives o mundo do barco. O balanço, os barulhos, a praia distante, o modo do barco. Se és obrigado a entrar, vives igualmente o modo do barco, mesmo que não saibas, mesmo que o teu mal-humor não te permita enxergar. Se o barco for um navio negreiro, onde estás acorrentado ao porão, com centenas de almas iguais a ti, passando por toda a sorte de privações, lembre de que o criminoso não és tu. É quem te colocou lá. E, se tua vida se acabou, será que isso aconteceu por acidente? Estavas passando por uma estrada quando foste capturado? Não devias estar lá, devias estar em qualquer outro lugar. Isso ocorreu por azar? Não, não foi azar. Foste vitima dos seres infernais que infestam o mundo e espalham o sofrimento pelo mundo. E é lícito combatê-los? Sim, Subuti, sim todos vocês que estão pensando nisso, é ultra lícito, porém dentro das condições vigentes. Viver não te distingue. Morrer não te distingue. Ser sábio não te distingue. Ser paciente não te distingue. Lutar não te distingue. Sofrer não te distingue. Isso porque, Subuti, não há nada que venhas a fazer ou dizer que seja digno de admiração. Ou de reprovação. Mesmo que por acaso o povo te coloque nas alturas, o que isso importará daqui a alguns anos? Assim é o mundo, Subuti, esse lugar perigoso em que temos de passar um tempo juntos. Para nos conhecer. Para nos estimar.
Mas mestre, existem de fato tais seres que se dedicam a nos infernizar a vida?
Subuti, meu doce Subuti; há nesse mundo seres de todos os tipos. Seres da luz. Seres da escuridão. Seres do desejo. Seres da conquista material. Porque há tantos tipos de seres quantos modos de ser. Uma bactéria que infecta os pulmões de uma fraca criancinha não o faz por maldade. Uma cobra que injeta o seu veneno na perna de um lavrador não o faz por maldade. Não podemos dizer que são seres da luz, nem da escuridão. Nem do desejo. São modos que existem sem desejo. Porém, o que dizer desses seres que infernizam a vida das pessoas? Reis cruéis que cobram impostos injustos. Escravizadores. Torturadores. Esses são modos do homem. E para os humanos há muitos modos. Todos, porem, condicionados pelo desejo. Motivados pela angústia da não realização do desejo; porque nenhum desejo se realiza. Por isso são chamados de desejo. Esses homens são ávidos e vorazes. Tem medo da morte, e acham que matando serão imortais. Tem medo da fome e acham que acumulando não passarão fome. Vivem hoje a fome que não querem passar no futuro. São feios e desengonçados, e para manter as suas mulheres satisfeitas tem que ser ricos e poderosos. Esse poder que eles procuram provem da sua capacidade de infernizar a vida das pessoas. Quantas mais pessoas dominem, mais poder adquirem. Então eles fundam nações e impérios. Depois de conquistar o seu próprio povo, dedicam-se a conquistar povos estrangeiros, a submetê-los, a subjugá-los, a fazê-los renunciar às suas crenças e modos e a pagar taxas para poder existir. Serão eles como as bactérias e as cobras? Não, porque os homens tem muitos modos de ser, todos condicionados pelos medos e pelos desejos. E isso é como uma doença que se espalha pelo mundo. Quem que já foi injustiçado que não quer injustiçar? Quem que já foi explorado que não quer explorar? Quem que já foi surrado que não quer surrar? Ao lidar com os seres infernais, temos que ter o cuidado de não adotar os seus modos. Porque senão eles terão nos dominado. Passaremos a ser, também, seres infernais. Passaremos de vitimas a algozes; de escravos a senhores de escravos. De torturados a torturadores. Por isso se fala em dar a outra face. Mas como dar a outra face se estivermos mortos? Se estivermos mortos, deveremos dar a outra vida? Demos uma vida e deveremos dar a outra? Deverão os nossos filhos seguir o nosso infeliz destino? Se sofri, deverei legar minha miséria aos que ainda estão por nascer? Porque, o filho é a outra vida. Portanto existem os seres infernais. Suas mentes são sujas e viciadas. Então eles passam a sujar todo o universo com o que se relacionam. Porém, Subuti, assim como uma mente suja vai emporcalhado todas as coisas com que lida, as mentes puras fazem o contrário: tornam puras todas as coisas que tocam. Cada mente suja que se limpar pode ter uma conseqüência enorme. E, se esses moços e moças maravilhosos, que querem estar no caminho conseguirem guardar de cabeça essas palavras difundi-las, e fazê-las crescer no meio de todos os seres, conseguirão com isso acumular muitos méritos. Porque acumular muitos méritos, é acumular nenhum mérito. Por isso se diz acumular. Por isso se diz...
É perfeito, mestre. É a perfeição. Eis porque queremos sentar aos seus pés. Pés que vaguearam pelo mundo, e colheram a poeira, passaram sobre as pedras, sob as águas, secaram ao sol. Mas será que durante o período negro de quinhentos anos de ignorância, em que todos os ensinamentos são descartados, será que os moços e moças continuarão lembrando dessas palavras?
Disse-o muito bem, Subuti. O período de quinhentos anos de ignorância que está por vir já começou, Subuti. Nós já o estamos vivendo. E se esses moços e moças guardarem de memória um só dessas palavras, ou se conseguirem por si sós refazer os caminhos dessas palavras, grandes méritos advirão. Porque isso é trabalho compassivo, que faz a ignorância desaparecer da face da terra.
Depois o mestre deixou-se ficar em silêncio por alguns instantes. Seu rosto brilhava ao sol. A multidão que não afluíra, tinha o seu espaço reservado num grande campo de terra batida. Cada centímetro quadrado daquela terra sagrada poderia abrigar um pedaço de pé. Três ou quatro pessoas estavam ali paradas. Mas traziam consigo as dúvidas de toda uma humanidade. Eram muitos bilhões de células colaborativas, uma verdadeira comunidade.
O vento batia em rajadas levantando pó do chão e agitando os mantos. O mestre guardava um silencio revigorador. Falar para uma só pessoa era falar para toda uma multidão. Deslizar por entre a pobreza, a sujeira e as más condições de vida, era garantia de atingir aos necessitados de consolo. Porque não existe consolo possível. Por isso se diz consolo.
Pegou o manto e a escudela e levantou-se para uma longa caminhada. Falara ao ser perguntado. Quem sabe não fala. Quem fala quer saber. Quem fala ao ser perguntado, e responde compassivamente, pratica o discurso bondoso. Não instigar o ódio, apaziguar os corações, não dizer mentiras e evitar falar as verdades em momentos inadequados, é o discurso no modo da bondade. Quem sabe não fala e não pergunta. O melhor discurso não tem palavras. Tem a força do exemplo, eis o melhor discurso. Falar se prende às necessidades corriqueiras de colaboração. Como agora, conseguir um pouco de comida mendigando, sem ser preciso abrir a boca para falar. Andar pela vila, segurando a tigela já era a demonstração evidente de que precisava de auxilio. É preciso saber receber. Mas quem dá é que deve agradecer, murmurando palavras doces entredentes, ou simplesmente fazendo uma reverência. Ir aos necessitados e sofrer com eles e viver o seu modo, é como se conhece uma realidade.
Nenhum ser morre de fome se estiver em liberdade. Apenas animais tolhidos e enjaulados passam fome. Ou povos colhidos em meio a guerras. Comem-se raízes, folhagens, frutos, insetos, e quando a fome aperta, comem-se outros animais de carne, como sempre foi desde o início dos tempos. Porque homens podem se alimentar de qualquer coisa. Do fresco ao podre, do cru ao cozido. Do enfeitado ao simples. Umas folhinhas fazem chás maravilhosos. Uns grão moídos fazem pães saborosos. O simples e puro arroz pode levar ao mundo dos seres puros e à felicidade; a boca pode ficar cheia d’água ao ver um prato de arroz. Já o álcool processado de açucares pode embaralhar a atividade cerebral e conduzir à caminhos fantasiosos. Uns grãozinhos, umas raízes é tudo o que se precisa. E, no entanto, se gasta tanto tempo na preparação de ricos manjares. De complicados temperos que confundem os sentimentos e dificultam a digestão. O valor das coisas simples é poder ser sentido sem emoção, absorvido sem complicação. Comido como se fosse o remédio que permite a continuação da vida.
Apego aos sabores é o início do caminho que foge ao caminho, onde a sofisticação, a deturpação, o emprego de temperos fortes provocam fortes emoções, e lavam cada vez mais longe nessa busca de coisas cada vez mais fortes. Retorno aos sabores simples é receber igualitáriamente qualquer coisa que vier. O fim dos festins. A adoção das cerimonias da atenção, da lentidão, do verdadeiro saborear, da renúncia à sensação fugaz dos temperos e a sofreguidão do engolir, do encher-se, do locupletar-se, do acúmulo, da ocupação dos ocos do corpo. Encher-se de atenção é melhor do que encher-se de matéria em decomposição, que o corpo terá que eliminar com dificuldade. A energia desviada para isso faz falta o dia todo. Corta-se o puro contato com a realidade. O mundo passa a ser o modo de lidar com toda essa matéria em transformação que foi ingerida, com todas aquelas substâncias pesadas e viscosas que ocupam espaço dentro das artérias e entranhas e vasos linfáticos, e impedem a energia pura de fluir. E se a energia não flui, os pensamentos são lentos, os sentimentos se distorcem, as emoções acumuladas encontram desvios para aflorar e prejudicar a atenção. Uma mente suja, distorce tudo com que faz contato. E não há nada que suje mais uma mente do que comida enfeitada e engordurada. Quem começa por aí, pode ir longe nesse caminho.
Por isso se diz: comei com parcimônia, comidas simples, como se fossem remédios. Combinai os cinco sabores e as cinco cores. Saboreai devagar; mastigai cada pedaço, cada bocado, muitas vezes, pacientemente. Bebei o que é sólido e mastigai o que é líquido. Quando engolirdes, reverenciai o príncipe celeste, porque dele depende a tua digestão. Saí da mesa com fome.
Portanto uma escudela, uma porção de cereal, o arroz ou o milho, um pedaço de raiz comprida, cenoura ou inhame ou aipim, umas folhas, é o suficiente. Porém quem mendiga não recusa. Aceita-se o que vier para não desqualificar o doador. Mas não se come tudo. Restos de bolo de festa, carnes gordurosas, entranhas de animais são cuidadosamente separados, já que o que interessa são os vegetais. Quanto menos comer melhor é. O homem não é uma máquina que precisa de combustível. O homem retira a sua energia de muitas fontes além da matéria bruta da alimentação. Um pouco de arroz, couve picada, uma pequena fruta. Um pouco de água ou de chá. Não acumular gorduras. Ser comedido em tudo. Gastar a energia, não acumular. Não viver entre a fome e o festim. Viver o caminho do meio, a começar pela alimentação.
Os homens não tem a menor idéia de quem plantou, cuidou e preparou a sua comida. E quem plantou, cuidou e preparou não tem a menor idéia de quem vai comer o produto de seu trabalho. São todos mendigos que vão às ruas em busca de comida.
Como ele, chamado pelo povo de profeta mas que profeta não era. Percorrer as ruas despertando curiosidade, com uma tigela na mão era suficiente. Alguns pensavam que ela estava anunciando o fim do mundo. Mas os caridosos entendiam o que ele estava procurando. E o paravam. E o convidavam a entrar. E enchiam o seu prato. Alguns muito honrados por abrigar por pouco tempo um grande alma. Ou o que eles achavam ser uma grande alma.
Suas roupas eram farrapos de cor indefinida. Mas não cheiravam mal. Se banhava diariamente em um poço, retirando a água devagar, balde a balde. Seus pelos finos e descorados eram raspados à navalha. E suas matérias excretórias desapareciam misteriosamente, como se nunca tivessem existido. Sem desespero, sem sofrimento visível, dedicava o seu tempo a demonstrar que é possivel viver, mesmo com pouquíssimos recursos.
Suas posses eram poucas e podiam ser atadas ao corpo deixando as mãos livres e sem fazer pesar os passos. Suas pegadas eram pouco profundas, impressões ligeiras sobre a terra. Caminhava como se flutuasse.