Desventuras de um ex-boneco de neve. Final.

“Ah! pobres anjos descalços, quem arrancou suas asas?”

Uma vez ele perguntou o porquê trabalhavam tanto já que eram todos crianças e ela disse nasceu, andou, sentiu fome, já é um homem.

Estava muito triste naquele dia, seu coração estava tão apertado, sabia o que tinha de fazer, mas será que o faria? Olhou para o lado, viu Ritinha, toda encolhida em baixo de uns papelões, vez por outra ela soltava uns gemidos. Pobrezinha! Pensou o ex-boneco, deixando que as lágrimas escapassem de seus olhos. Rita apanhara tanto naquele dia, tudo porque deixou cair à garrafa de cachaça da mãe, onde já se viu isso? Espancar a filha por causa de pinga. Olhou para o outro lado, viu que Sônia o observava.

---Eu sei o que está pensando. Sussurrou a garota. --Vai ir embora, não vai?

---Eu quero ir, mas não sei se vale a pena. Respondeu.

---Deve valer.

---Vem comigo Sônia, vamos procurar uma mãe de verdade, ai quando acharmos voltamos para buscar a Ritinha.

---Não posso Lombriga.

---Por quê?

---Eu já tenho uma mãe.

---Mas, ela bate na gente.

---Eu sei, mas não é culpa dela.

---Como não, Sônia?

---Ela só judia da gente, porque ela já foi muito judiada nessa vida, e de qualquer forma eu não a deixaria.

---Bem... neste caso, eu acho que também vou ficar.

---Não, não fica não, segue seu caminho Lombriga.

---Mas...

---Segue seu caminho, pra eu saber que alguém busca um novo mundo, um mundo com chocolate quente que tanto cê gosta, um mundo com mãe que não bebe, que não bate nos filhos, vá.

E ele foi...

Não sei se ele realizou seu sonho, não sei se encontrou uma mãe de verdade, tão pouco sei de todas as desventuras por qual deve ter passado, mas uma coisa sei, sei que ele seguiu em frente, ensinando o caminho para os que não podem partir e sonhando para os que não podem sonhar.

~~°~~FIM~~°~~

NOTA: Na contracapa do livro Crianças na Escuridão de Júlio Emílio Braz diz:

“Se ao ler este livro sua indignação vier à tona, então terá valido a pena ao autor tê-lo escrito”. E eu digo: Se a indignação de uma única pessoa vier à tona ao ler esse conto, para mim valerá mais do que a pena tê-lo escrito.

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Por mais bela que seja a fantasia, não podemos simplesmente fechar os olhos para a realidade.

sutini
Enviado por sutini em 11/04/2009
Reeditado em 11/04/2009
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