Desventuras de um ex-boneco de neve XI

“O sonho de toda criança é ver uma mão estendida, dizendo pra casa nós vamos voltar”

Agora Lombriga tinha uma família e um lar, se é que se pode chamar aquilo de lar, uma vez que viviam embaixo de um viaduto. Ao todo eram cinco contando com ele.

Dª Maria, a mulher que o acolhera e seus três filhos, o mais velho Pedro, sempre de cara feia e desconfiada, a do meio Sônia, que nunca dizia nada e a menorzinha Rita, tão magrinha que dava dó.

Logo no primeiro dia aprendeu como as coisas funcionavam por ali e a regra era simples, se não trabalha, não come, também não ganha beijinho nas bochechas, muito pelo contrario. Mas por sorte Lombriga nunca voltava de mãos vazias, era ele que sempre conseguia mais esmolas e isso fez com que se tornasse o preferido da mulher mesmo não sendo filho dela. No começo até que ele gostou da situação, até começar a enxergá-la de fato, e isso se deu quando ganhou aquele pedaço de torrone e as outras crianças não, Pedro carrancudo dissera:

---Mas mãe, cê deveria dá pra gente que somos os seus filhos e não para esse daí.

---Meu filho... É aquele que arranja mais dinheiro. Disse a mulher. Agora vê se para de lerdar e vai trabalhar, vai!

Lombriga não gostou dessa atitude, mas como já havia enfiado todo o torrone na boca não pode fazer nada, mas na primeira oportunidade que teve comprou três torrones, esperou Dª Maria sair de perto e foi entregar para seus novos irmãos. Primeiro deu para a Ritinha, que aceitou o doce feliz da vida, depois entregou para a Sônia, que o recebeu sem dizer nada, mas quando foi entregar para o Pedro, esse deu lhe um safanão na mão e saiu de perto deles, xingando-o.

---Não ligue. Era a primeira vez que Sônia se dirigia a ele.

---Ele não gosta de mim. Disse Lombriga, cabisbaixo.

---Pedro não gosta de ninguém. Respondeu Sônia.

A cada dia que passava Lombriga percebia que a única coisa que o fazia ser aceito por aquela mulher era o fato de trabalhar para ela e o mesmo se sucedia as outras crianças, pois, Dª Maria não amava ninguém, a única coisa que ela amava era a sua garrafa de cachaça, e mais nada, ela vivia brigando com eles, reclamando que eles não trabalhavam o suficiente, mesmo que tivessem trabalhado o dia inteiro e sem falar que ela sempre estava bêbada, mas o pior, o pior mesmo, era quando não conseguiam dinheiro o suficiente para ela voltar a encher sua garrafa, ah! aí Dª Maria virava fera, e sobrava pau para todo mundo.

Lombriga não estava feliz, não era aquilo que ele tanto procurara, mas valeria à pena continuar a procurar, valeria à pena ele ir embora? Sim porque apesar de tudo, apesar de apanhar de Dª Maria, de Pedro que o detestava, era melhor do que está sozinho, assim jogado no mundo, sem lugar certo pra dormir, sem ninguém para protegê-lo. Afinal, ninguém ousava mexer com os filhos de Dª Maria, Maria era macaca velha como ela mesma dizia, conhecia todas aquelas paragens por ali, nada passava despercebidos dos olhos de Maria

sutini
Enviado por sutini em 10/04/2009
Reeditado em 11/04/2009
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