Desventuras de um ex-boneco de neve VIII
“Fome, há quanto tempo não se cozinha mais sonhos, nas panelas vazias das crianças sem nome” (autor desconhecido)
A madrugada rareava e o dia nascia e com o dia os homens acordavam.
As luzes dos postes iam se apagando à medida que as das lojas se acendiam.
As pessoas saiam das suas casas rumo ao seus trabalhos. Era tanta gente! Gente vendendo, gente comprando, pessoas que iam e viam. Todas passavam por eles como se fossem invisíveis, um senhor de terno deu lhes um esbarrão e nem sequer lhes pediu desculpas, já um outro além de empurrá-los ainda os xingou:
---Sai da frente seus idiotas!
Lombriga estava assustado. Caolha sorria, mas era um sorriso totalmente desprovido de alegrias.
---Temo de prucura o que cume. Disse Caolha.
Lombriga passou a mão na barriga, e falou:
---Hmm! Até que um chocolate quentinho cairia bem.
---Mas tu não é nada bobo, né? Donde gente como nóis, toma chocolate quente? --Eu nem me alembro do gosto que tem. Disse com tristeza.
Depois de um tempo de silêncio Caolha continuou:
---Certo! vamo toma chocolate quente.
---Como? Perguntou Lombriga, não tenho dinheiro, você tem?
---Dinheiro?? Não num tenho não.
---Então como vamos faz...
---Óia aqui Lombriga é melhor tu ficar aqui, eu ajeito tudo. Falou Caolha com determinação e em seu rosto pairava um sorrisinho que Lombriga não gostou nada, nada.
Pouco tempo depois Caolha voltou com um embrulho nas mãos, ela olhava desconfiada para os lados e ao se aproximar de Lombriga falou:
---Vamo lá pro parque. Rápido!
Lombriga não estava gostando nada daquilo, mas obedeceu-a. Entraram no parque que ficava próximo a avenida onde antes estavam e se aconchegaram ao pé de uma árvore. Com dedos trêmulos de excitação Caolha abriu o embrulho, que só agora Lombriga percebeu que se tratava do agasalho que antes Caolha usava, e dentro do embrulho havia coisas que fizeram saltar os olhos de Lombriga e seu estômago roncar ainda mais forte.
---Como conseguiu tudo isso!?
Caolha fingiu não ter ouvido a pergunta do menino
---Alguém te deu, não foi?? Continuou Lombriga já com a boca cheia.
Caolha olhou para ele, com aquele seu único olho tão penetrante e disse:
---Desde quando arguém da as coisas pra gente como nóis Lombriga?
Lombriga abaixou a cabeça e preferiu não perguntar mais nada, uma vez, que não estava gostando nenhum pouco das respostas que recebia.