CHUVA CAI E BENÉ TAMBÉM
CHUVA CAI E BENÉ TAMBÉM
Todas as noites de sábado, os amigos da velha dona Mariana se reuniam em sua casa para animadas partidas de víspora e ninguém deixava de comparecer, em parte pelo divertimento com o jogo e a maioria pelo excelente café acompanhado de pão de milho e broas de melado caseiros, que era servido.
A amigável reunião tinha seu inicio as dezenove horas e terminava pontualmente as vinte e uma, quando então era servido o café bem acompanhado e para rebater um cálice de licor de jabuticabas também caseiro e todos voltavam para suas casas, felizes e já pensando com ansiedade no sábado seguinte.
Essa rotina nunca era quebrada, nada de novo acontecia, mas no Arraial dos Anjos aquele encontro de velhos amigos era o maximo de diversão que se conseguia em um sábado a noite, porque o lugar era totalmente parado e sem opções, mas a pequena comunidade se contentava com pouco em falta do muito
.
Passava o tempo e nada mudava, mas depois de anos, aconteceu um sábado diferente: Bené era um dos freqüentadores da casa de dona Mariana e como nasceu com as pernas muito curtas, tinha dificuldades para se movimentar, ele andava distancias curtas se apoiando em uma bengalinha, mas longe não.
A casa de dona Mariana ficava bem distante da morada de Bené e tinha um pequeno morro no caminho, de maneira que era um trajeto impossível para o deficiente Bené, mas seu amigo Gil o levava assentado em um de seus ombros e se divertiam durante a caminhada, com as piadas do alegre Bené.
Todo o sábado era a mesma coisa e depois da noitada Gil levava o amigo de volta para sua casa, mas uma noite durante o jogo caiu uma forte chuva e depois do aguaceiro, os amigos de dona Mariana saíram a caminho de suas casas e como sempre Bené estava empoleirado no ombro de Gil, todo alegre.
As ruas do lugar eram de terra e a chuva forte cavou crateras que se encheram de água barrenta, e na beira de uma delas Gil se preparou para saltá-la, mas viu um enorme sapo, deu um grito e recuou, mas Bené que não esperava pelo tranco, voou gritando e caiu de cara dentro da vala cheia de água e lama.
Foi um reboliço, correram todos para socorrer o coitado que estava todo molhado, sujo e muito bravo, assim que recuperou o fôlego, disse ao Gil: grande amigo é você, me jogar longe por causa de um inofensivo sapo, isso não se faz e Gil se desculpou dizendo: desculpa-me amigo Bené, tenho pavor de sapos.
Bené ainda muito injuriado, disse que era uma vergonha um homem daquele tamanho ter medo de um inofensivo sapo e concluiu: sapo é desdentado sua anta, você é um homem ou um rato? E para divertimento dos demais companheiros, Gil respondeu: homem eu sou, mas homem é homem, sapos a parte.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA