O PALHAÇO TRISTE

Na pequena cidade de Funny, Leandro é o mais famoso palhaço da cidade, ou melhor, o único. Na cidade já não ha mais circo, ele se foi a cerca de dois anos por falta de publico . Faliu. Leandro ficou para alegrar e fazer valer o nome da cidade, Funny.

Ele era o mais popular entre os viventes desta região. Sempre podíamos encontrar-lo na praça central da cidade. Sim, as crianças, adultos e velhos o adoravam e riam frenéticos com suas palhaçadas e brincadeiras, deixando sempre algumas moedas jogadas ao chão. Mas o tempo foi passado e sempre as mesmas piadas... Leandro foi perdendo a graça, a flor que jogava água agora não sai nada. Já não paravam para ver-lo, não deixavam mais moedas. Ele foi ficando triste e meditabundo. Já não tinha graça, perdera o encanto. Ficara de lado, não lhe davam mais atenção.

Para um palhaço a coisa importante é fazer com que as pessoas riam, e quando algum não mais o pode é como a morte, é uma dor constante. Chorar pelos cantos é a única saída, mas como?! Borrar sua maquilagem tão colorida, alegre, vivida... mas não continhas as lágrimas. Leandro já não podia pagar moradia e mal dava para comer. Canifraz e desiludido com a vida, Leandro sai andando pelas ruas... anda pela estrada. Um caminho ermo e empoeirado, deixando cair suas lágrimas envoltas em variáveis cores pelo caminho. O chão se coloria conforme Leandro passava e logo se encontrava pálido, pois sua cor, suas alegrias ficaram no chão. Era como se derretesse, tornando-se um ´ser´, não um palhaço, pois não podia-se dizer que um palhaço andasse com um olhar tão profundo e sombrio em trajes e maquilagem preta e branca.

Sentado na sarjeta, Leandro, o palhaço preto e branco fixa seu olhar profundo no céu, olhando para as nuvens e rindo sozinho das imagens que ela formava, e pensava: “ Até as nuvens são mais engraçadas que eu... mas não sou tão mau assim. Minhas piadas são boas, eu sou um palhaço magnifico. Aquela gente é que não intende nada da minha arte, nada. Eles tem que pagar pelo que fizeram. Se eles não gostam de alegria, risos, piadas super elaboradas como as minhas, talvez a dor e o sofrimento lhes agradem, talvez a morte lhes seja mais bem vinda...”.

Leandro se levanta e refaz seu caminho colorido, com os olhos cheios de vingança de quem o desprezou. Ele quer vingança e terá vingança.

Se aproxima do centro da pequena cidade, mas não é notado. Isso lhe enfurece mais. Logo adiante vê uma roda de crianças. Tira de sua mala objetos que tinha preparado, uma flor; a põem em sua lapela e coloca-se a frente das crianças, elas o olham de soslaio e dão as costas. Leandro chega e lhes mostra a flor como um bom e velho palhaço o faria. Todos olham atentos mas sem nenhum entusiasmo. De repente de sua flor bicolor sai um esguicho do que deveria ser água, mas era ácido, que cai no rosto das crianças deformando-os no mesmo instante. Elas choram e pedem ajuda, Leandro com um sorriso na face solta: “ Por que pedem ajuda?! Não é disso que gostam, sofrimento? Quando lhes ofereci alegria não quiseram...”. E vai embora onde encontra velhos aposentados no banco da praça jogando ‘truco’. Recorre outra vez a sua mala. Tira três bolinhas que mais pareciam granadas. Os aposentados olham com um olhar indiferente e voltam ao jogo. Leandro faz malabarismos com as ‘bolas’ como uma excelente palhaço. Como um verdadeiro palhaço, eles sempre as deixam cair, mas Leandro era astuto e não permitiu que elas caíssem, não; jogou-as contra o corpo dos três aposentados que jogavam e apostavam tampas de garrafas. Eles não tiveram nem tempo para gritar, seus corpos foram destruídos antes.

Leandro pegou seu caminho por uma ruazinha estreita onde encontrara uma torta exposta na janela. Apoderou-se da torta e seguiu pela rua; pretendia come-la mais tarde, mas viu adiante uma senhora muito velha e idosa anciã fazendo tricot e teve uma ‘brilhante’ ideia. Chegou na frente da velhinha e com um sorriso realmente alegre - pois estava feliz em se vinga -, fazia palhaçadas e contava piadas diante da velha, mas quando se preparava para tacar a torta que continha arsênico, cianureto, cicuta no rosto da senhora ele viu uma coisa que o comoveu. Ela riu. Riu como uma criança. Leandro parou, tirou o sorriso do rosto e viu que ainda podia fazer com que as pessoas rissem; que ainda era engraçado. Pulou de alegria e correu para a estrada onde sua cor havia derretido e ficado no solo, mas ela já não estava mais lá, foi levada pela água da chuva. Sua cor já não podia mais voltar, teria que viver eternamente em um triste mundo sem cor.

Ele saiu andando e já decidindo se suicidar encontrou Ana, uma palhaça bicolor que também tinha os mesmo planos e o mesmo passado. Suas antenas estavam ligadas na mesma freqüência e se encontraram pelos ares.

Os dois estavam felizes, mesmo em preto e branco, então foram juntos para um canto em um colorido Disco Voador.

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 29/03/2009
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