CAPÍTULO II

 

 

     Foi como se todos tivessem despertado do mesmo pesadelo ao mesmo tempo. O silêncio assustador dava a impressão de que o tempo tinha parado. Cada um dos presentes estava entregue aos seus pensamentos.

      Viúva e filhos pareciam estar preocupados com seus problemas e como se uma campainha de alarme acabasse de tocar estridentemente se assustaram com a presença do Delegado.

        Este, com o olhar sério e penetrante, tirou do bolso do paletó um papel cuidadosamente dobrado e entregou ao advogado que o abriu e leu em silêncio, com um aspecto sério e sem alterar um músculo da face.

      O advogado em seguida levantou-se, pediu licença a viúva e aos filhos e se dirigiu com as autoridades policiais para uma outra sala. Ao ouvirem o barulho da porta se fechando, os quatro se olharam com um ar de desconfiança, quem sabe traindo um pouco de ódio.....

 

 

       Bela consertou o vestido e beijou suavemente o Dr. Bernardes. Deu uma rápida olhada num espelho, ajeitou o cabelo e a maquiagem e saiu do consultório com um sorriso disfarçado nos lábios.

         Não havia dúvida que a consulta tinha sido ótima. Avisara a família que iria ao médico e talvez demorasse pois se sentia deprimida. Afinal de contas, o velório, o enterro, os pêsames aquele ambiente fúnebre, um principio de desmaio, a pouca alimentação, tudo isso necessitava de cuidados médicos.

      Ela era cliente assídua de um médico que sabia perfeitamente das suas carências. Iria ao consultório para exames de rotina, pois afinal de contas queria estar bem para a leitura do testamento. Faziam exatamente nove dias que seu marido tinha sido enterrado e era a primeira vez que ela saía a rua.

     Na parte da tarde, por volta das dezesseis horas, ela e os filhos teriam que se reunir com advogado da família para abertura e leitura do testamento. Enquanto caminhava distraída pela calçada movimentada, ainda mantinha na memória a lembrança dos gemidos, sussurros e os beijos dados e recebidos no consultório do seu amante.

      Ela estava feliz, muito feliz. Afinal, acabara de se livrar daquele velho que infernizava sua vida e agora poderia ter toda a liberdade de viver aquele louco amor ao lado do seu amante, seu médico.....

 

 

      Gabriele estava nervosa, angustiada . Precisava de mais droga e não podia comprar no ponto habitual. Além disso, sua dívida estava muito alta e já recebera um recado de que se não pagasse o que devia até o final de semana, alguma coisa muito desagradável poderia acontecer.

      Ela estava impaciente. Queria que chegasse logo o momento de se apossar da sua parte na fortuna do pai. Seu plano era pagar suas dívidas e em seguida se mudar para outro lugar bem distante. Talvez conseguisse um bom emprego e poderia viver sua vida em paz.

      O único problema era o fato de não estar conseguindo se livrar do vicio. Começara cedo, quase que por brincadeira e influenciada por colegas.

      O vicio tornara-se incontrolável e estava difícil sustentá-lo. Sua mãe já estava desconfiada de que alguma coisa errada e muito séria estava acontecendo com a filha pois tinha percebido que alguns objetos de valor e várias jóias tinham desaparecido.

     Gabriele sentia tremores, suava frio. Mas estava de certa forma aliviada. Durante muito tempo tinha desejado que o pai morresse logo para poder por a mão no dinheiro. Chegara inclusive a idealizar um plano para envenenar o velho.

     Seus pensamentos estavam embaralhados, confusos e por um instante olhou fixamente para sua imagem refletida no espelho do amplo banheiro. Ainda era muito bonita. Lavou as mãos e o rosto com a água fria que jorrava da torneira dourada.

      Refez a maquiagem , deu um jeito no cabelo e se dirigiu ao escritório do seu falecido pai, onde dali a instantes seria lido o testamento......

 

 

                       ....continua.....


 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 29/03/2009
Reeditado em 12/02/2013
Código do texto: T1512042
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