O MOTOQUEIRO
Caríssimo, esta é a primeira parte de um conto que estou escrevendo. Apesar de não estar pronto ainda, gostaria de saber sua importante opinião.
Fico muito grato por tua visita!
Ele entrou na sala. Vestia um jeans velho que sempre gostava de usar quando precisava viajar de moto. Junto com o jeans, uma jaqueta preta de couro e botas também pretas, de cano longo.
Diana estava sentada no sofá, com as mãos sobre os joelhos. Ela nunca se sentia confortável com estas viagens dele. Sempre sentia um peso no coração, como uma aflição pela partida, que não conseguia controlar.
Mas Caco prometera que era a última viagem. Ele precisaria ir só mais uma vez até a sede da empresa onde trabalhava, na capital, e depois nunca mais. Era a promessa que tinha mantido o relacionamento dos dois naquele ano conturbado.
Quando ele entrou na sala ela se levantou do sofá, passando a mão na saia azul clara e olhando para baixo, como que para disfarçar a lágrima que insistia em brotar de seus olhos. Ele chegou bem perto dela e passou a mão por trás de seu pescoço, massageando suavemente sua nuca, como ele sempre fazia e ela adorava.
Encostando a testa na testa dela, ele disse:
_É a última vez, meu amor.
_Eu sei – ela disse, não conseguindo impedir as lágrimas de rolarem livremente pelo seu rosto agora pálido. – Eu confio que sim.
Naquele momento seus lábios se tocaram e os dois mergulharam em um longo e apaixonado beijo. Vários minutos se passaram antes que seus rostos se separassem e ele pudesse olhar nos olhos dela mais uma vez. E, fazendo isso, disse:
_Quando eu voltar poderemos marcar a data do nosso casamento.
Ao ouvir estas palavras, um sorriso brotou em meio às lágrimas que caíam dos olhos da jovem moça. Isso era o que ela estava esperando há algum tempo. Sem contar para seu noivo, porém, ela já tinha tudo planejado e esquematizado. Tinha até comprado a maioria das coisas do enxoval deles. Até a data ela já tinha escolhido, mas sem dizer nada para ele...
Eles caminharam para a frente da casa com os braços entrelaçados e desceram juntos os degraus da pequena varanda. A grande moto custom de 600 cilindradas que ele tinha estava parada no estreito caminho que levava até a rua. Bem cedo ele tinha levado para abastecer e calibrar os pneus. Ele sempre olhava todos os detalhes antes de pegar a estrada.
O rapaz sentou na moto e vestiu as luvas, pesadas luvas de couro, para proteção contra o vento e insetos durante a viagem. Antes de vestir o capacete, porém, ele puxou sua noiva para perto de seu corpo e a beijou novamente, com os cabelos dela caindo sobre o beijo demorado.
Quando os lábios se desgrudaram, ele falou:
_Me espera que logo, logo eu volto e a gente casa.
E enquanto o pesado e barulhento motor empurrava a motocicleta portão afora, ela ficou olhando o noivo que se distanciava, com lágrimas caindo dos olhos e um sorriso brotando nos lábios.
_Mãe, vou passear com o Trovão – gritou a menina com voz fina.
A mãe, uma mulher morena e alta apareceu na porta da cozinha e, com um pano molhado em uma mão e um prato na outra, disse:
_Cuidado, Amandinha, ele é muito grande para você! Chama o Junior para segurar.
_Tá bom, mãe. – respondeu a garota, já com a grande coleira cheia de pontas nas mãos e caminhando na direção do canil, onde Trovão a esperava, ansioso.
Trovão era um cão pastor, ainda filhote, com oito meses de idade, mas já com quase o tamanho da garota. Ele ficava extremamente ansioso e quase incontrolável quando ouvia o som metálico da coleira se aproximando dele, e latia e gania incessantemente.
Sem atender a ordem da mãe, Amanda abriu o portão do canil e deixou Trovão correr pelo gramado sem controle. Quando o pesado cachorro se acostumou à liberdade parcial e quis mais, se aproximou dela para receber a corrente que o levaria para um passeio.
E é claro que Amanda não se deu ao trabalho de chamar o irmão para ajudá-la a segurar a coleira do forte animal.
A estrada passava rapidamente por baixo dos largos pneus de sua motocicleta. Caco estava acostumado a fazer este trajeto todas as semanas, e se sentia muito ansioso para começar a trabalhar no escritório que a empresa estava abrindo na sua cidade.
Era exatamente o que ele precisava para poder finalmente se casar com sua Diana, que estava ainda mais ansiosa que ele para que isso acontecesse. E eles enfim poderiam pensar em ter um filho, como ele sempre quis.
Mergulhado nestes pensamentos Caco via as faixas da estrada passarem rapidamente, e as placas que ele tanto conhecia se aproximarem dele na medida em que avançava os quilômetros. Até que nuvens pesadas começaram a tomar conta do céu, que antes estivera claro e muito azul.
Não seria a primeira vez que ele viajaria sob chuva e sua jaqueta e luvas o protegeriam sem qualquer problema da água que cairia, e os largos pneus da moto o manteriam na estrada, qualquer que fosse a potência da chuva que viria.
Com um sorriso de tranqüilidade, Caco olhou para a estrada que se estendia à sua frente e acelerou a motocicleta, satisfeito com o rumo que sua vida tinha tomado até aquele momento.
A mãe não entendia que ela já conseguia controlar Trovão enquanto caminhava com ele pela região onde morava. O cachorro gostava ainda mais quando ela o levava para caminhar na beira da rodovia que passava ali por perto.
E apesar de a mãe ter dito inúmeras vezes para ficar longe da estrada Amanda tomou exatamente aquela direção quando passou com Trovão pelo portão de casa. E nem mesmo quando o sol se escondeu atrás de algumas nuvens a garota teve vontade de voltar para casa.
Mas foi neste momento que Trovão viu alguma coisa que chamou sua atenção. Era um pássaro, talvez um canário, que tinha pousado sobre aquela barreira de concreto que separava os dois sentidos da estrada.
E sem sequer dar importância para a garota que segurava sua coleira ou para o trânsito pesado daquela região, os olhos do animal somente viam o pássaro a poucos metros dele. E o instinto natural de Trovão se encarregou do resto.
Você culparia a criança pelo que aconteceu depois? E o cachorro? Você culparia a quem?
Naquela região, que tinha alguma povoação nas imediações da rodovia, Caco sempre reduzia a velocidade, mas com a iminência da chuva ele imaginou que não haveria qualquer pessoa à beira da estrada e não sentiu necessidade de viajar mais devagar.
Assim, sem se dar conta do que poderia acontecer a qualquer momento, Caco manteve o potente motor de sua motocicleta acelerado. E foi naquele momento que um relâmpago cruzou o céu, iluminando a figura de uma garotinha loira chorando no acostamento, com uma corrente nas mãos.
E depois do relâmpago veio o Trovão.
Caríssimo, esta é a primeira parte de um conto que estou escrevendo. Apesar de não estar pronto ainda, gostaria de saber sua importante opinião.
Fico muito grato por tua visita!
Ele entrou na sala. Vestia um jeans velho que sempre gostava de usar quando precisava viajar de moto. Junto com o jeans, uma jaqueta preta de couro e botas também pretas, de cano longo.
Diana estava sentada no sofá, com as mãos sobre os joelhos. Ela nunca se sentia confortável com estas viagens dele. Sempre sentia um peso no coração, como uma aflição pela partida, que não conseguia controlar.
Mas Caco prometera que era a última viagem. Ele precisaria ir só mais uma vez até a sede da empresa onde trabalhava, na capital, e depois nunca mais. Era a promessa que tinha mantido o relacionamento dos dois naquele ano conturbado.
Quando ele entrou na sala ela se levantou do sofá, passando a mão na saia azul clara e olhando para baixo, como que para disfarçar a lágrima que insistia em brotar de seus olhos. Ele chegou bem perto dela e passou a mão por trás de seu pescoço, massageando suavemente sua nuca, como ele sempre fazia e ela adorava.
Encostando a testa na testa dela, ele disse:
_É a última vez, meu amor.
_Eu sei – ela disse, não conseguindo impedir as lágrimas de rolarem livremente pelo seu rosto agora pálido. – Eu confio que sim.
Naquele momento seus lábios se tocaram e os dois mergulharam em um longo e apaixonado beijo. Vários minutos se passaram antes que seus rostos se separassem e ele pudesse olhar nos olhos dela mais uma vez. E, fazendo isso, disse:
_Quando eu voltar poderemos marcar a data do nosso casamento.
Ao ouvir estas palavras, um sorriso brotou em meio às lágrimas que caíam dos olhos da jovem moça. Isso era o que ela estava esperando há algum tempo. Sem contar para seu noivo, porém, ela já tinha tudo planejado e esquematizado. Tinha até comprado a maioria das coisas do enxoval deles. Até a data ela já tinha escolhido, mas sem dizer nada para ele...
Eles caminharam para a frente da casa com os braços entrelaçados e desceram juntos os degraus da pequena varanda. A grande moto custom de 600 cilindradas que ele tinha estava parada no estreito caminho que levava até a rua. Bem cedo ele tinha levado para abastecer e calibrar os pneus. Ele sempre olhava todos os detalhes antes de pegar a estrada.
O rapaz sentou na moto e vestiu as luvas, pesadas luvas de couro, para proteção contra o vento e insetos durante a viagem. Antes de vestir o capacete, porém, ele puxou sua noiva para perto de seu corpo e a beijou novamente, com os cabelos dela caindo sobre o beijo demorado.
Quando os lábios se desgrudaram, ele falou:
_Me espera que logo, logo eu volto e a gente casa.
E enquanto o pesado e barulhento motor empurrava a motocicleta portão afora, ela ficou olhando o noivo que se distanciava, com lágrimas caindo dos olhos e um sorriso brotando nos lábios.
_Mãe, vou passear com o Trovão – gritou a menina com voz fina.
A mãe, uma mulher morena e alta apareceu na porta da cozinha e, com um pano molhado em uma mão e um prato na outra, disse:
_Cuidado, Amandinha, ele é muito grande para você! Chama o Junior para segurar.
_Tá bom, mãe. – respondeu a garota, já com a grande coleira cheia de pontas nas mãos e caminhando na direção do canil, onde Trovão a esperava, ansioso.
Trovão era um cão pastor, ainda filhote, com oito meses de idade, mas já com quase o tamanho da garota. Ele ficava extremamente ansioso e quase incontrolável quando ouvia o som metálico da coleira se aproximando dele, e latia e gania incessantemente.
Sem atender a ordem da mãe, Amanda abriu o portão do canil e deixou Trovão correr pelo gramado sem controle. Quando o pesado cachorro se acostumou à liberdade parcial e quis mais, se aproximou dela para receber a corrente que o levaria para um passeio.
E é claro que Amanda não se deu ao trabalho de chamar o irmão para ajudá-la a segurar a coleira do forte animal.
A estrada passava rapidamente por baixo dos largos pneus de sua motocicleta. Caco estava acostumado a fazer este trajeto todas as semanas, e se sentia muito ansioso para começar a trabalhar no escritório que a empresa estava abrindo na sua cidade.
Era exatamente o que ele precisava para poder finalmente se casar com sua Diana, que estava ainda mais ansiosa que ele para que isso acontecesse. E eles enfim poderiam pensar em ter um filho, como ele sempre quis.
Mergulhado nestes pensamentos Caco via as faixas da estrada passarem rapidamente, e as placas que ele tanto conhecia se aproximarem dele na medida em que avançava os quilômetros. Até que nuvens pesadas começaram a tomar conta do céu, que antes estivera claro e muito azul.
Não seria a primeira vez que ele viajaria sob chuva e sua jaqueta e luvas o protegeriam sem qualquer problema da água que cairia, e os largos pneus da moto o manteriam na estrada, qualquer que fosse a potência da chuva que viria.
Com um sorriso de tranqüilidade, Caco olhou para a estrada que se estendia à sua frente e acelerou a motocicleta, satisfeito com o rumo que sua vida tinha tomado até aquele momento.
A mãe não entendia que ela já conseguia controlar Trovão enquanto caminhava com ele pela região onde morava. O cachorro gostava ainda mais quando ela o levava para caminhar na beira da rodovia que passava ali por perto.
E apesar de a mãe ter dito inúmeras vezes para ficar longe da estrada Amanda tomou exatamente aquela direção quando passou com Trovão pelo portão de casa. E nem mesmo quando o sol se escondeu atrás de algumas nuvens a garota teve vontade de voltar para casa.
Mas foi neste momento que Trovão viu alguma coisa que chamou sua atenção. Era um pássaro, talvez um canário, que tinha pousado sobre aquela barreira de concreto que separava os dois sentidos da estrada.
E sem sequer dar importância para a garota que segurava sua coleira ou para o trânsito pesado daquela região, os olhos do animal somente viam o pássaro a poucos metros dele. E o instinto natural de Trovão se encarregou do resto.
Você culparia a criança pelo que aconteceu depois? E o cachorro? Você culparia a quem?
Naquela região, que tinha alguma povoação nas imediações da rodovia, Caco sempre reduzia a velocidade, mas com a iminência da chuva ele imaginou que não haveria qualquer pessoa à beira da estrada e não sentiu necessidade de viajar mais devagar.
Assim, sem se dar conta do que poderia acontecer a qualquer momento, Caco manteve o potente motor de sua motocicleta acelerado. E foi naquele momento que um relâmpago cruzou o céu, iluminando a figura de uma garotinha loira chorando no acostamento, com uma corrente nas mãos.
E depois do relâmpago veio o Trovão.