Desventuras de um ex-boneco de neve II
"Eu só peço a Deus um pouco de malandragem, pois sou criança e não conheço a verdade".
(trecho da canção “malandragem” interpretada por Cássia Eller)
Escuridão, calor, muito calor. O que está acontecendo? Será que estou no purgatório? Pensou o bonequinho. Ele sentia sede, sentia calor; Sim deve ser o purgatório, devo ter morrido e agora estou pagando pelos meus erros, primeiro o de querer ser um garoto de verdade, já que era um boneco de neve porque não me contentei com isso? Porque carga d’água quis ser diferente? E segundo, invadi uma casa, que loucura! E ainda por cima roubei papel e caneta! Puxa, mas eu só queria escrever uma carta! Ao pensar na carta se deu conta de que ainda a mantinha em uma de suas mãos, apertou-a, e ao fazer isso sentiu algo diferente, algo estranho, sua mão estava... macia? Abriu os olhos bem devagar, abriu os olhos! Como? seus olhos eram de azeitonas não se abriam, sem entender nada e bem devagarzinho levantou seu bracinho na altura de seus olhos e olhou. O que viu fez seu coração dá um salto tão forte, mas tão forte que este quase lhe saiu pela boca, olhou para o outro braço para as pernas. Não acredito! Eram de verdade, eram de gente!! Só posso esta sonhando, ou melhor, quer dizer pior... só pode ser castigo, isso mesmo quando eu acreditar que é verdade vai desaparecer tudo, pernas, mãos, tudo, isso mesmo é castigo, porque eu fui um boneco mal, eu não fui grato com o que eu tinha, eu quis mais, agora estou sendo castigado.
Então o bonequinho não acreditou que seu corpo de menino fosse de verdade; Acreditando ou não, o fato é que eles continuavam ali, pernas, mãos, olhos que se abrem, enfim, tudinho. Bem de vagarinho e com muito medo de não dar certo o boneco, ou melhor, o ex-boneco se levantou, percebeu com certo alívio que ainda estava em frente a grande loja, que antes enfeitava a entrada, e não num purgatório, percebeu também muitas poças que se formavam com a neve derretida, aproximou-se de uma delas e se olhou, era um garoto um garoto de verdade.