O RATO ROEU A UNHA DO GATO
Morava num sobrado daqueles bem antigos, um gato angorá branco, peludo - o xodó da vovó - e um ratinho daqueles bem matreiros, sabidos, escondido nos velhos porões. Ali viviam há anos na eterna luta do gato querendo pegar o rato. Todas as noites, depois do lanchinho, quando todos se recolhiam, muito sabiamente, saía o ratinho do seu esconderijo para pegar o queijo da vovó. Só que o gato sabia e passava grandes sustos no pobre ladrão. Mas rato esperto como esse, não existe mais. Não deixava mesmo o gato lhe encostar. Sorrateiramente pegava o seu quinhão do queijo e... vapt-vupt, corria para o porão.
O gato chegou à conclusão de que devia ficar amigo do rato. Afinal, os dois naquele sobrado há tantos anos, não valia à pena ficarem brigando. Sentiam-se sós, e briga não leva a nada; só desgaste e correria. Um dia colocaram as cartas na mesa: - “Vamos ficar amigos? Não vou correr mais atrás de você” - falou o gato. Pode roubar sossegado o queijo da vovó. O ratinho ficou no céu. Roubava seu queijinho, batia papo com o gato; um alisava o pelo do outro numa demonstração de carinho, e depois iam dormir.
Até que um dia veio uma neta morar com a vovó. Menina moderna, astuta, começou logo a implicar com o gato. – “Ah! Vó! Esse gato está velho, feio, nem pega rato! Repara que todos os dias falta queijo na bandeja. Ainda por cima, com essas unhas de gavião, arranha todo o sofá”! A velha já não sabia o que fazer. Ela adorava o seu gato de estimação. O gato tudo ouvia e tremia de medo. Não queria sair do velho sobrado, nem deixar, agora, seu grande amigo rato.
À noite desabafou com o amigo, sua tragédia. Este foi logo dizendo: - “Passar a unha no sofá sei que jamais vai deixar. É um vício atávico de todos os gatos, mas acho que encontrei a solução: - Vou roer as suas unhas. Assim poderá passar as suas patas no sofá e nada estragará. Quanto ao queijo, vou deixar de roubar o petisco da vovó. Assim sua neta pensará que você me comeu. Vou procurar alimento em outro lugar”. O gato deixou o ratinho roer todas as suas unhas e lhe agradeceu de coração. O ratinho falou: - “Amigo e assim; quando um precisa, o outro acolhe. Você fez muito por mim, estou apenas retribuindo”.