PAPO DE DINOSSÁUROS

PAPO DE DINOSSÁUROS

- Não me diga que ganhou na loteria?

- Que nada. Continuo na pindura.

- Mas e esse relógio?

- Made in China, via Paraguai. Vinte pratas.

- E a camisa de seda?

- Comprei usada. A calça também. Brechó de roupa italiana. Seminovas.

- O sapato é de pelica.

- Ah! Este é original. Tava guardado há vinte anos. Do tempo das vacas gordas.

- Puxa! Mas você ta muito elegante!

- A gente faz o que pode. É pra não cair em depressão.

- É... bom mesmo foi o tempo que o dólar tava um por um. Agora, nem dólar,nem real.

- Será que vamos ficar igual à Argentina?

- Será? Deixa de ser besta, ó meu! Isso aqui ta uma merdança! Já faz pra mais de três meses que não vejo um centavo.

- É... eu também to na pior.

- Culpa do governo.

- Acho que não. É o capitalismo internacional.

- A gente bem que podia fazer uma revolução.

- Ta fora de moda.

- Cadê o seu ideal? Renegando o socialismo? A luta de classes? Os ideais da juventude?

- To não. É que caí na real.

- E ta conformado?

- Fazer o que? Até o barbudo virou pelego. Aliou-se com o patrão. Agora só veste terno Armani. Fez alianças com liberais e corr... cala-te bocz! Não quero me comprometer.

- Mas ainda tem gente idealista.

- Conhece alguém?

- Eu!

- Dinossauro.

- Ainda sou capaz de pegar nas armas...

- Vai atirar em quem?

- Nos donos do sistema.

- Lá em São Paulo tem ladrão junto com guerrilheiro. Aqui nas gerais o herdeiro da Capitania ta junto com topetudo e barbudo. E você é um festivo desbundado.

- Pelo menos quero reagir. A gente não pode ficar acomodado. E você? Vai fazer alguma coisa?

- Vou sim!

- O que?

- Assistir futebol... viva o Curingão!

antonio luiz fontela
Enviado por antonio luiz fontela em 19/03/2009
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