NÃO TEVE TEMPO

Marcos é meu amigo, um personagem bastante estranho. Não posso dizer que seja doente. Homem inteligente, equilibrado, grande capacidade para o trabalho e de boa convivência. Tem tudo para ser feliz: saúde, dinheiro, boa integração social. É médico conceituado e tem vida familiar invejável. Helena, sua esposa, é bela, meiga, fiel. Deu-lhe duas filhas encantadoras. No entanto, Marcos é triste, insatisfeito, fechado. Passa a imagem de infeliz. Às vezes tenho vontade de lhe dar umas sacudidas: - “Puxa, amigo, que cara é essa!? O que lhe incomoda!? A vida lhe sorri e você parece não perceber”. Talvez guarde algum segredo ou mistério, mas NINGUÉM, nem mesmo seus familiares e amigos íntimos, penetraram no seu mundo interior.

Marcos, criança pobre e sofrida, perdeu seus pais muito cedo. Batalhou para alcançar um “lugar ao sol”. Na luta pelo ter e o poder se esqueceu dos valores estáveis, aqueles que, realmente trazem realização e felicidade. Na corrida da vida pelo “quem ganha mais”, “quem pode mais”, “ quem tem mais”, poucas vezes, teve tempo para avaliar a beleza maior que é sua família, o pequeno mundo ao seu redor.

- “Marcos, tenho um belo convite a lhe fazer. Proponho confiante. Vamos de férias até Mônaco? Que tal uma fuga da rotina? Entraremos no mundo fantástico do jogo, da vida noturna... Quem sabe isto lhe fará bem”? Sem grande entusiasmo Marcos aceita o convite.

Noite em Monte Carlo! Letreiros luminosos, convidativos, música, mulheres. Entramos no cassino e tentamos o risco do jogo. O ambiente é sedutor. Lindas mulheres empetecadas de jóias e casacos de pele; homens perfumados, glamorosos e a roleta, como a roda da vida, convida ao sucesso, ao poder, a riqueza.

Marcos não resiste. Aos poucos se entusiasma e joga, joga... até que ouve o tilintar das fichas e a voz do croupier: - “Mais um felizardo! Um milhão de dólares”! O rolar das fichas coloridas deixa-o meio tonto e enjoado. Não vibra, nem deixa passar grandes alegrias. Parece que não está ali, no milhão de dólares, o que Marcos busca e necessita.

Caminhamos, normalmente, para o hotel. O dia amanhece. No trajeto pouco fala ou deixa transparecer seus planos com seu milhão de dólares. – “Boa noite. Até amanhã”! Cada um para o seu quarto. No dia seguinte o enigma a desvendar: “Dr. Marcos Loureiro, com um tiro no coração, põe fim a uma vida de grande sucesso”.

Maria Eneida
Enviado por Maria Eneida em 17/03/2009
Código do texto: T1490503
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