A Felicidade Bate em Sua Porta
“Eu fico imaginando, se uma mulher linda, maravilhosa, que eu nunca tivesse visto antes, batesse em minha porta, e acabasse com meu sofrimento”.
Após dizer esta frase numa roda de amigos, na boate, Nicolau, com um copo de cerveja na mão, voltou para pista de dança. Ele bebia compulsivamente.
Nicolau terminara o namoro, há cinco meses,com Catarina. Foi uma relação de quatro anos, muito intensa. Eles amavam-se muito, as vezes brigavam, na maioria das vezes por causa de ninharias.
Ela sempre fora fiel a ele. Dele já não se podia dizer o mesmo. No início do namoro, nicolau teve um caso com uma vizinha. Como foi só uma aventura passageira, Catarina o perdoou. Na segunda vez, ele se iludiu com outra mulher e o namoro chegou ao fim.
Catarina era a mulher mais doce e encantadora que já existiu no universo desde o Big-bang. Linda, cabelos negros, pele dourada, olhos cor de mel. Mais bela que qualquer heroína descrita pela literatura: Esmeralda, Beatriz, Carlota, Sofia, Capitu e outras. Ela tinha uma alegria radiante e uma bondade verdadeira. Era sensual, mas a sua sensualidade só se exibia para Nicolau. Perfeita.
Durante o namoro foi muito dedicada, gostava de cuidar dele. Certa vez Nicolau caiu de moto. Ele morava sozinho e sua família vivia em uma cidade distante. Contrariando sua família, Catarina mudou-se para o apartamento de Nicolau para cuidar melhor dele. Ele fraturara dois ossos da perna direita e o braço esquerdo. Ficaria dois meses imobilizado e se locomoveria por cadeira de rodas. Catarina trabalhava e estudava; sacrificava todo o tempo que tinha e as vezes até o que não tinha só para cuidar de Nicolau. Ela acordava muito cedo, preparava o café-da-manhã e levava-lhe na cama. Saía para trabalhar, aproveitava um pequeno intervalo ia em casa para vê-lo. Dava-lhe os medicamentos. Voltava para o trabalho. Tornava ir em casa para fazer almoço. Mal tinha tempo de almoçar, voltava para o trabalho. À tarde abandonava o serviço duas vezes para vê-lo. No final do expediente voltava para o apartamento e dava banho em Nicolau. Ela tomava um banho rápido e ia para faculdade. Chegava atrasada. Voltava pra casa, tratatva dele antes de dormir. Dormia exausta. Acordava de madrugada e dava-lhe os remédios no horário certo. Esta era a rotina de Catarina durante a recuperação de Nicolau. Ela emagrecera muito, tirara notas baixas na faculdade e amiúde era repreendida por abandonar o trabalho.
Foi dedicada incondicionalmente a ele, enquanto durou o namoro.
Nicolau era um fanfarrão. Tinha muitos amigos e saía muito com eles. Nos encontros e viagens com os amigos, Catarina se incomodava, mas cedia às vontades de Nicolau. Ele percebia o desgosto dela e não se importava nem um pouco com isso.
Com o tempo o namoro caiu na rotina. Nicolau conheceu Ana, uma nova colega de trabalho. Ele era professor de inglês e Ana substituía um professor que adoecera. Ela também era muito bonita, tinha os cabelos louros compridos, os olhos azuis como o mar do Caribe, olhar hipnotizante, corpo atlético. Avião, gostosona, boazuda, popozuda e outros adjetivos. Ana usava roupas provocantes, gostava de festas badaladas, de boates e bebidas. Tinha muitos amigos. Foi paixão à primeira vista. Nicolau tinha bom gosto. Flertavam-se discretamente na escola de inglês e começaram a se encontrar fora de lá. Nicolau inventava alguma mentira para Catarina a fim de sair com Ana. Ele estava enlouquecido por essa mulher.
Nicolau arrastou essa bigamia por dois meses. Ele já não tinha mais desculpas para justificar suas ausências com Catarina. Ana pressionava-o a terminar o namoro, queria te-lo quando ela quisesse e não quando ele pudesse. Então, ele abriu o jogo com Catarina. Disse que não a amava mais e contou tudo sobre Ana. Catarina chorou muito. Ficou alguns dias deprimida. Mas ela era muito forte, decidida e conseguiu esquece-lo em pouco tempo.
Algum tempo depois, Nicolau adoeceu. Contraiu dengue. Um caso muito grave. Nicolau teve que se internar em um hospital. Ana sequer o visitou. Ela só queria saber das festas e baladas. Não tinha tempo para ele. Ela queria um homem sempre à sua disposição. Nicolau, antes, notara o descaso dela com ele. Eles saíam com os amigos dela. Ele ia contrariado, não gostava deles. Ana fazia chantagens para que ele o acompanhasse às festas, chegando lá, humilhava-o na frente de seus amigos. Era uma dominadora.
Já em casa, recuperando-se da doença, nicolau lembrava-se de Catarina, de sua dedicação e cuidados com ele, o quanto ela amava-o. Quando seu celular tocava ele atendia rapidamente na esperança de que fosse Catarina. Se tinha alguma chamada perdida de um número desconhecido, ele imediatamente retornava a ligação: talvez fosse Catarina ligando de um novo número de celular.
Nicolau telefonara para Catarina. Ela ainda possuía o mesmo número. Eles conversaram bastante. Ele contou sobre a dengue que contraiu, que esperava que ela o visitasse e que sentia sua falta; perguntou como ela estava. Catarina, com uma doçura de mel, respondeu que não o visitou porque não soubera da doença. Ele suplicou-lhe que reatassem o namoro. Ela disse não, que estava namorando e muito feliz. Nicolau despediu-se, desligou o telefone e caiu em prantos.
Agora, Nicolau buscava de qualquer forma acabar com sua tristeza. Bebia muito, dançava, pulava, flertava as garotas com cantadas grosseiras; chorava.
Um jovem traficante de drogas sintéticas, desses que perambulam pelas boates e festas, percebendo o pranto de Nicolau, aproximou-se dele. Ofereceu-lhe um comprimido branco por um certo valor e que isso lhe traria a felicidade de volta. Nicolau pagou. Com um gole de cerveja engoliu o comprimido. Alguns minutos mais tarde, ele já estava reanimado, sentia-se forte, alegre, eufórico. Via tudo com mais brilho, mais cores.
Nicolau parou de dançar, já não se sentia bem. O coração disparara, a garganta secara. Chamou pelos amigos que estavam perto. Queria ir embora. Nicolau falava com certa dificuldade e sua visão estava atrapalhada. Seus amigos levaram-no carregado para casa, deitaram-no na cama e foram embora.
Nicolau escutou batidas na porta. Levantou-se e foi atender. Ao abrir a porta, ele teve uma surpresa: era uma linda mulher, maravilhosa. Ela vestia um curto vestido preto, decotado, tinha seios fartos. Parecia-se com Catarina, mais não era Catarina. Nicolau perguntou quem era ela, esta respondeu-lhe que era sua felicidade e que veio para livrar-lhe de todo o seu sofrimento. Ela segurou a sua mão, deu-lhe um longo beijo na boca e o levou para o lugar onde o corpo não segue a alma.