BOLO DE NOIVA EM DUAS VIAS

Gloria era uma confeiteira muito apreciada, principalmente pelos belos bolos de noiva que preparava e na cidade de Bom Retiro a totalidade das noivas fazia suas encomendas da festa do casamento a ela; além de competente em sua profissão Gloria era uma pessoa de bem com a vida, muito alegre.

Nessa tipo de trabalho coisas inusitadas acontecem sempre e uma delas aconteceu com a feliz Gloria: Eliane ia se casar e foi encomendar o bolo de noiva a conhecida confeiteira, mas diferente das outras noivas ela parecia preocupada e triste e a solidária e curiosa Gloria perguntou o que acontecia.

Para sua surpresa, a jovem noiva contou que estava triste, porque ia se casar contra a vontade da família e para piorar a situação sua avó mãe de seu pai, estava muito contrariada com o assunto e vivia dizendo que se ela se casasse com aquele rapaz , ela ia morrer de desgosto e isso estava estragando tudo.

A bem humorada doceira animou a jovem dizendo que quem ameaça de morrer vive mais que os outros, que ela não se preocupasse com nada disso, porque a vida era dela e o direito de escolher o marido também e disse mais: olha Eliane, o seu bolo vai ser o mais bonito e gostoso de todos os que já fiz.

A tristonha noiva saiu de lá com outro animo e passou a terminar os preparativos do casamento com muita alegria e pensava: Gloria está mais do que certa, vou me casar com o homem que escolhi e ninguém vai atrapalhar minha felicidade e minha avó só vai morrer quando Deus determinar a hora.

A data do casamento de Eliane se aproximava e Gloria se esmerava na preparação do bolo e depois de pronto era na verdade uma obra de arte, ficou maravilhoso todo confeitado em branco e enfeitado com rosas e cravos e lá no alto um lindo casal de noivinhos com roupas de gala, um luxo.

No momento em que Gloria terminou de preparar o bolo, a campainha da porta tocou e ela pensou: uai, faltam muitas horas para o casamento e já vieram buscar o bolo? Abriu a porta e era a própria Eliane, mas chorando na maior aflição e foi logo dizendo: minha avó teve um infarto e morreu, a culpa é sua.

A confeiteira ficou sem saber o que dizer, mas se recuperou logo e disse: sua avó morreu porque era a hora dela partir e não tem nada a ver comigo e nem com seu casamento, deixe passar um tempo e você se casa e vai ser feliz, a vida é assim menina, tudo passa e continua;

a chorosa noiva se lembrou do bolo e disse.

Esse bolo tem que servir de alegria para alguém, retire os noivinhos e mande para a Creche Jesus Menino, as crianças vão adorar tenho certeza, assim foi feito e a alegria na Creche foi enorme; depois de alguns dias Eliane voltou a casa de Gloria e pediu desculpas pela tola acusação e foi desculpada.

Com o passar do tempo, a tristeza foi se acalmando e Eliana voltou aos braços do antigo noivo e começou a preparar tudo para o casamento novamente, Gloria voltou a preparar um lindo bolo de noiva, mas dessa vez de boca fechada, mesmo porque quem queria morrer dessa vez era o pai da noiva.

Com o bolo pronto e muito lindo, Gloria vigiava a campainha da porta pensando: se morrer mais alguém eu vou desistir, um terceiro bolo para um mesmo casamento eu não faço, mas ninguém morreu, o casamento aconteceu e a segunda via do bolo foi degustado por alegres convidados graças a Deus e ninguém se lembrou da falecida avó.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA