Resgate
A sensação experimentada era de ausência, insegurança talvez. Os caminhos dos corredores escuros eram agora um labirinto perigoso. Todo som, ruído estabelecia um fator de desorientação.
Havia também o cheiro, que esta ansiedade por escapar à desorientação, embaralhava. Predominava o éter e seus congêneres; ao fundo se percebia um suave cheiro de café, talvez um potente estimulante neste ambiente.
A ausência de referencia visual condenava a um limbo, era um ser expulso da segurança construída no crédito das imagens. O poder dos soporíferos impossibilitava qualquer emissão sonora, então estava assim incomunicável, subtraído da relação com suas vontades, podia senti-las, mas não expressa-las.
A condição de passageiro e protagonista destas sensações pesava mais que qualquer sofrimento. Fragmentos de memórias embaralhavam-se na desconexão dos ruídos, havia falas sem sentido e metais chocando-se, alguns sons de origem mecânica que a memória não conseguia decifrar.
Repentinamente deu-se uma calmaria breve e um formigamento por todo corpo o transportou duma explosão de luzes para a cela da escuridão e tudo queimava. As sensações eram ébrias e reais. Nenhum membro respondia as suas vontades e toda força se dissipava no esforço de tomar posse do próprio corpo.
Alguém se postava próximo, ao ponto da respiração registrar tal presença. Permanecia uma total desconexão com os eventos, não havia relação com qualquer passado, nem remoto ou imediato; era o presente se projetando numa resistência instintiva diante de uma instabilidade que presumia uma ameaça.
Houve um silencio que em princípio pareceu pacífico e depois se tornou perturbador e foi violentamente quebrado pela abertura da Titã de Mahler, alguém gritou por um desfibrilador, daí fugiu de vez os sentidos.