O ETERNO CARONA
O ETERNO CARONA
Loudenir dos Santos Pacheco era o pomposo nome daquele modesto trabalhador rural, mas de nada lhe adiantava porque era conhecido apenas como Lori, porque naquela comunidade o uso de apelidos era uma imbatível tradição e varias pessoas tinham não um só, mas varios apelidos e estava tudo bem.
Além do nome diferente e do apelido comum, Lori era conhecido também pela sua mania de viajar, ele trabalhava de sol a sol capinando tarefas inteiras de ruas de cafezais, mas sem prestar muita atenção, porque sua cabeça estava sempre cheia de sonhos de viagens, mas viajar sem dinheiro não podia.
Durante a maior parte de sua vida Lori trabalhou e sonhou, mas quando ele chegou aos cinqüenta anos pensou: é agora ou nunca, ou viajo agora ou morro plantado aqui como se fosse um inerte pé de café; ajuntou suas poucas roupas, enfiou em uma sacola e foi para a beira de uma estrada que passava perto.
Mal chegou e apareceu um caminhão carregado de mercadorias, ele deu um sinal com o braço levantado, o caminhoneiro parou e perguntou: que foi meu chapa? E ele respondeu: quero viajar moço, me leva? levo disse o motorista, entra ai, ele entrou e o caminhão rodou, era o começo do caminho.
Assim Lori partiu para ver coisas novas; como dinheiro não tinha ele prestava serviços aos motoristas que lhe davam carona, ajudava na carga e descarga dos caminhões e como sabia cozinhar, era até disputado pelos carreteiros de longa distancia, que cochilavam enquanto ele preparava a refeição.
Assim Lori se tornou carona profissional, viajava sem planos e sem direção, ia para onde os motoristas fossem e para ele estava ótimo; nesse vai e vem ele fez grandes amizades, conheceu o Brasil inteiro em um turismo sem gastos e por isso muito mais divertido, dormia muito bem em uma rede.
Lori nunca voltou a região onde vivia e capinava café, passou mais de vinte anos nessas viagens e quando a idade começou a pesar, seus amigos motoristas de varios lugares reuniram uma boa quantia de dinheiro e pagaram para ele um quarto em uma casa de repouso, onde ele viveu mais alguns anos.
Quando Lori morreu, seus amigos motoristas acompanharam seu enterro em seus caminhões, carretas, carros e toda variedade de conduções possíveis, quase dez quilômetros de veículos enfileirados com grandes tarjas pretas e lá na frente o caixão de Lori em cima de uma enorme carreta.
Os motoristas amigos de Lori se cotizaram e colocaram em sua sepultura uma pedra mármore esculpida em forma de um caminhão, com os seguintes dizeres: Aqui descansa Lori, amigo fiel e eterno carona; que uma nuvem o pegue e o leve até o céu em sua ultima viagem. Adeus Companheiro.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA