FALAR DEMAIS É UMA DOENÇA

FALAR DEMAIS É UMA DOENÇA

O MUNDO FALA DE TUDO

TENHA OU NÃO TENHA RAZÃO

TOLO É QUEM AO MUNDO

DÁ QUALQUER SATISFAÇÃO

Esse versinho de pé quebrado era a bandeira desfraldada de dona Liduvina contra os falatórios do mundo em geral e de sua filha Dircilene em particular, porque beata assumida achava um horror à mania que as pessoas têm de falar mal umas das outras, em sua opinião esse pode ser o caminho em linha reta e sem nenhum obstáculo para as profundezas do inferno.

Dona Liduvina era uma pessoa idosa e muito insatisfeita com as pessoas a sua volta, porque ela posava de santarrona, pura e livre de todos os pecados possíveis e impossíveis; para ela o resto da humanidade era composta de pecadores impenitentes, pessoas que não sabiam se comportar e principalmente ficar de boca fechada, pois em sua opinião falar demais era pecado.

Sua filha Dircelene era totalmente contra as implicâncias de sua mãe, porque gostava de falar e falava o que lhe viesse à cabeça, verdade ou mentira ela não queria nem saber; para desgosto maior de dona Liduvina a filha já estava com mais de quarenta anos e nada de arranjar um marido, era um encosto irremovível e falador, e a pobre mãe nada podia fazer.

O tempo passa, a idade aumenta e quem é solteirinha passa à solteirona, as boas qualidades diminuem e as más aumentam porque o sonho de toda mulher é o casamento e com a frustração, vem o desejo de vingança contra as amigas que tiveram a sorte de arranjar um marido e esse era o caso de Dircilene, que começou a arranjar fofocas sobre os maridos delas.

Ao saber dos falatórios da filha, dona Liduvina aconselhou dizendo: Dircilene, essa nossa cidade de Serra do Bugio é um lugar pequeno e as fofocas aqui se alastram como rastilho de pólvora, você com sua boca enorme está trazendo desavenças nas famílias e isso não é bom, o resultado pode ser muito grave e você pode pegar as sobras, porque isso vai virar uma guerra.

A criatura não ouviu os conselhos de sua mãe ou se ouviu não registrou e continuou a falar mal dos casados do lugar; a maioria era de paz, se explicavam para suas esposas e tudo voltava ao normal, mas de repente Dircilene exagerou a dose, porque inventou uma amante para Urias Matos, o homem mais bravo do lugar e contou para dona Onofra sua ciumenta esposa.

Dona Onofra que também era valente esperou o marido e quando ele chegou foi recebido com uma pesada frigideira bem no meio da cabeça, assustado perguntou: ficou doida mulher, o que foi isso? Ela disse que já sabia de tudo e não queria mais saber dele e no final disse que Dircilene dera seu maldoso recado; Urias ficou uma fera e saiu procurando pela fofoqueira.

Foi encontrá-la na casa de dona Liduvina, ela quis se esconder, mas não deu tempo, foi agarrada pelas orelhas e arrastada pela rua até a casa do furioso Urias, pediu desculpas à dona Onofra pela mentira mal intencionada, mas nem assim se livrou da tremenda surra de cinto que levou e de ter a ponta da língua cortada como advertência para o futuro.

Quando chegou em casa toda descadeirada e coberta de sangue, levou uma bronca sem tamanho de sua humilhada mãe; com o corte na língua Dircilene passou a falar de um jeito estranho, mas aprendeu a lição e nunca mais se meteu na vida dos casais de Serra do Bugio e quanto se encontrava na rua com Urias, ela cobria a boca com as mãos e saia correndo.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 10/03/2009
Código do texto: T1479130
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