VIDA: UMA MISSÃO DE AMOR

Vida Missão de Amor

_Já acordada mãe? Domingo é dia de descansar.

_Tive aquele sonho de novo. Não consegui voltar a dormir. Então resolvi adiantar o serviço.

_ É um pesadelo mãe. Toda vez que sonha fica abatida.

_Tem razão Alicia. Só que desta vez foi diferente, consegui ir mais longe.

Laís tinha sempre o mesmo sonho: uma viagem de trem, a descida numa estação num lugarejo quase deserto. Um ancião sentado num banco de ferro, que levantava levemente o chapéu para observá-la, numa expressão de espanto. Ao lado da velha estação, uma curva que se estendia para uma ladeira, chão revestido de pedras. Era tudo muito familiar.

Tentava se lembrar de algum lugar parecido procurava em revistas e livros, mas tudo em vão. Só que desta vez o ancião tirou o chapéu e a cumprimentou assustado e conseguiu subir toda ladeira, passou por uma igreja de torre muito alta e uma escadaria em formato de S na frente. Parou parecia imaginar todo interior daquela igreja.

Continuou subindo a ladeira, viram algumas casas, todas pareciam sem moradores. Tudo muito silencioso, não presenciou ninguém neste meio tempo, afora o misterioso senhor da estação.

Bem adiante à esquerda, viu um casarão antigo, branco de janelas azuis, varanda contornando toda casa, e um lindo jardim de hortênsias na frente. Olhou para a janela do andar de cima e teve a ligeira impressão de que alguém a observava. Empurrou o portão e se dirigiu até a varanda em arco. Subiu alguns degraus de pedras, caminhou até a porta e puxou uma corrente do sino da porta. Uma mulher negra, bem magra, de cabelos brancos veio atendê-la de maneira hostil:

_ Que veio fazer aqui? Por que você voltou? Vá embora! Aqui ninguém mais precisa de ti.

Nesse momento acordou, e o mistério se tornou maior.

_Filha tenho certeza que estes sonhos possuem uma mensagem. Mas, cada dia que passa tenho ficado mais preocupada ainda. É tudo tão real pra mim.

Laís tinha dois filhos, Alicia com dezesseis anos e Lucas com dez. Era enfermeira num hospital da cidade, e sustentava a casa. Alicia estudava e trabalha meio período da jornada de trabalho pra ajudar nas despesas. Lucas, o mais novo, só estudava, mas dava muitas preocupações à mãe pelo jeito malandro. Ela não podia contar com o marido que era alcoólatra.

Como de costume vendia uns dias de férias para conseguir mais um dinheiro, ou pegar um serviço extra.

E naquele mesmo dia, recebeu uma proposta de serviço. Teria que ficar uns dias numa cidade do interior para cobrir uma licença de uma enfermeira, que cuidava de um paciente no leito. A oferta de serviço veio num momento que precisava, assim imediatamente aceitou. Cuidou de tudo antes de partir para o trabalho eventual, pediu ajuda com a sogra, que sempre ficava em sua casa quando precisasse.

Pegou o trem bem cedinho pra a cidadezinha onde ia prestar serviço. E depois de algumas horas de viagem chegou ao destino.

Poucos passageiros desceram naquela estação quase deserta. E pra sua surpresa era a mesma do sonho que sempre tinha. Relutava consigo mesma para acreditar no que via a sua frente. Fechou os olhos e abriu. Mas como magia, lá estava ela, no lugar do sonho.

Mal conseguia caminhar por tamanha surpresa, as pernas tremiam e o coração acelerava.

Nem se calculou quanto tempo ficou parada observando, revivendo todo cenário, que certamente já conhecia.

Meu Deus! Parece que estou sonhando. Pensou.

Prosseguiu o caminho. Lá estava o ancião sentado no banco de ferro ao lado da estação, mas dessa vez tirou o chapéu e se levantou para cumprimentá-la educadamente.

_Bom dia moça!

Apesar de trabalhar muito, Laís era uma mulher bonita e não aparentava ter trinta e oito anos.

Subiu a ladeira de maneira involuntária. Um sentimento estranho tomou posse dela, uma mistura ternura com ansiedade.

Tudo estava lá. Real, mas como havia sonhado. A estação, o ancião, a ladeira, a Igreja, a mercearia, as casas, e a misterioso casarão branco.

Diante da casa misteriosa, se apressou. Olhou para a janela do andar de cima, viu uma sombra de uma mulher pelo vidro. Empurrou o portão que ringiu de velho, subiu até a varanda e tocou o sininho.

A mesma cena do sonho, uma mulher veio abrir a porta, com gestos bem secos.

_Entre, por favor! Estávamos te aguardando.

A sensação de que estava num lugar conhecido aumentou no interior da mansão. Ela conhecia todos os móveis, e não pode evitar se aproximar dos retratos numa mesinha de canto. De onde conhecia aquelas pessoas das fotos?Parecia já ter subido as escadas para o andar de cima. A mulher me observava curiosa. Vamos?

Silenciosa, de rosto carrancudo, a mulher levou-a até o quarto para guardar a bagagem, e em seguida ao quarto do paciente que ia cuidar.

_ Senhor Otávio, esta é a enfermeira que vai ficar no lugar da Eliane.

Quando se aproximou daquele leito, seus olhos se encontraram com os dele, teve a certeza de ter conhecido aquela pessoa. Jamais se enganaria um azul intenso e um a face sofrida. Aparentava ter mais idade que seus quarenta anos. Segurou-se pra não chorar, mas sentia o coração acelerado pela emoção ao apertar aquela mão. No mesmo instante notou que havia uma energia diferente no ambiente. Não pode evitar uma troca de olhares. Porém, teve a certeza estar com uma pessoa profundamente sofrida e extremamente carente

Logo ficou sabendo que Otávio tinha uma irmã mais nova, que vivia na casa trancada num dos quarto. Lívia tinha depressão profunda. Pela descrição concluiu que se tratava do vulto que observou na janela quando chegou ao casarão.

Procurou tomar conhecimento do serviço e não demorou conquistar a confiança do paciente com sua experiência com acamados e o carinho que dispensava.

E nas oportunidades que encontrava tentava descobrir coisas sobre aquela família. Zulmira aos poucos falava alguns fatos.

Certo dia contou sobre o acidente que o levou Otávio para leito.

Havia algo estranho envolvendo a família e que naturalmente mexia com Laís. O paciente, apesar dos médicos dizerem que poderia já estar andando, ele nunca se esforçava. Já Lívia, era casada e tinha um filho de cinco anos, mas não conseguia vencer a depressão. Largou tudo e voltou a morar no casarão.

Uma noite resolveu visitar os outros cômodos da casa. Caminhando pelo corredor do andar de cima, parou de frente a uma porta e num impulso rodou a maçaneta. Mas antes que pudesse abrir a porta foi impedida. Zulmira puxou-a para trás.

_ Não pode entrar ai, Senhor Otávio não permite! -Falou em voz alta.

A enfermeira pediu desculpas e desceu pra cozinha. Zulmira a seguiu fazendo várias perguntas

_O que estava procurando lá? O que quer de nós?

Não conseguindo esconder o que sentia, Laís contou sobre os sonhos. A ama, pensativa revelou que sentiu a presença de Madeleine nela desde que a conheceu.

_Impressionante com vocês se parecem, o jeito de andar, de falar. E você conseguiu conquistar Otávio e Lívia já tem saído do quarto. Confesso que é maravilhoso isso. Mas tenho muito medo.

_Do que tem medo Zulmira? Perguntou Laís.

_De trazer mais sofrimento pra eles.

Na verdade, as duas sabiam que algo sobrenatural estava acontecendo.

Zulmira ficou mais assustada ainda quando Laís perguntou da fábrica de laticínios. Respondeu que já havia fechado, sem condições de continuar depois da morte do senhor Frederico. Disse ainda, que a família vivia do aluguel dos imóveis que marido de Lívia administrava.

Naquele momento tudo passou como um filme na mente, o passado em cenas da vida daquela gente, que eram desconhecidas por Laís tornava-se real.

Da janela do quarto, Laís via uma parte separada casa. E quando olhava vinham muitas recordações de momentos felizes que conhecia de alguma maneira. Lá era o ateliê de Madeleine. Ali que ela pintava lindas telas.

Uma tarde conseguiu chegar ao ateliê. A porta estava encostada, e imediatamente entrou. E foi ali que definitivamente teve a certeza de ter uma ligação entre Madeleine e ela. Não tinha dúvida, Viveu ali outra vida.

Caminhou até uma tela coberta e empoeirada. Puxou o pano e colocou a mostra um retrato de uma linda mulher. Aquele rosto... Claro que o conhecia muito bem

_ Meu Deus, que mistério! –falou com voz baixa.

Começou acaricia uma caixinha de madeira que estava numa mesa, e sem que percebesse passou a mão por baixo da mesinha e pegou uma pequena chave escondida. Abriu a caixinha e dentro examinou o conteúdo com cuidado. Eram pedras coloridas e algumas cartas de Frederico para Madeleine.

Assustou-se com a presença de Zulmira que já a observava a tempo.

_ Você estava aí?

_Você é Madeleine mesmo que voltou! Só ela, Frederico e eu sabíamos desta chave.

_Não sei mais quem sou... Preciso de uma explicação Zulmira. Acredite, conheço cada pedaço desta casa. Sinto-me como se tivesse vivido aqui.

Laís procurava entender o sentido de tudo. Qual a razão de estar ali?

_Madeleine era uma mulher encantadora -falava Zulmira- mas tinha um gênio forte. Era ambiciosa, vaidosa, e muitas vezes egoísta. Senhor Frederico, o marido dela, sempre fazia suas vontades. Ele era um homem muito bom e generoso. Tinha muito carinho pelos filhos. Madeleine vivia no mundo de fantasia, adorava festas, dançar e beber. Bebia muito. Tudo isso entristecia o marido. Mas no fundo tinha um bom coração, de vez em quando se mostrava alegre e falante. Ela era uma verdadeira artista, pintava telas maravilhosas.

Continuou falando

_Mas, por infelicidade se apaixonou por Heitor, o melhor amigo de Frederico. Eles tiveram um caso. Mas não queria deixar a família. Foi muita pressão que sofreu pelos seus erros. Chorava muito e quase não falava mais.

Um dia conversamos muito, ela me falou que tinha decidido esquecer tudo e ficar com o marido. Resolveu fazer uma festa de aniversário para ele. Ficou muito animada com os preparativos.

Na festa Madeleine bebeu muito. Acredito ter sido pela presença de Heitor que apareceu de repente no meio da festa.

Então mudou de comportamento, já fora de si, começou a chorar e contou que estava apaixonada por outro homem. Frederico ficou fora de si com a declaração bombástica de estar sendo traído. Bateu em Madeleine na frente de todos. Ela subiu as escadas correndo...

_Espere Zulmira sei de tudo que vem depois. Laís continuou falando como se pudesse ler todo do passado:

_Subi as escadas, entrei para o eu quarto chorando. E só pensava em ir para bem longe. Peguei minha bolsa e desci mal me mantinha em pé. Aproveitei que tinham levado Frederico pra cozinha e entrei no carro, só que Otávio veio chorando e me abraçou pedindo pra ir comigo, e num ato impensado levei meu filho. Chovia, eu estava bêbada. Não pude evitar uma terrível batida naquela árvore.

_Meu Deus, você Voltou!

_Sim, agora entendo tudo Zulmira. Voltei pra ajudar meus filhos. Sei que não possa fazer mais nada por Frederico, pois, se entregou ao vício e logo morreu. Quanto sofrimento eu causei por falta de escrúpulo. Foi uma maldade que fiz pra eles por causa de um capricho. Creio que esta permissão de retorno ao passado me foi dada para que eu resgatasse vidas e para a elevação da minha alma. Agora tenho que fazer algo de bom para mudar esta situação. Zulmira eu tenho que pedir perdão a eles! Tenho que reconhecer que errei.

Com a ajuda de Zulmira, Laís contou tudo para Otávio e Lívia. Não foi muito difícil convencê-los revelando alguns fatos que só eles viveram juntos no passado. Implorou pelo perdão e conseguiu. Afinal este foi o propósito de sua volta.

Depois convenceu Otávio de ir se tratar na capital. E graças a Deus, cada dia que passava ele vencia as dificuldades. E já fazia planos para seu futuro. Lívia voltou pra sua família e foi vencendo a depressão.

Laís e a minha família continuaram apoiando os dois. Otávio e Lívia encontraram uma razão de viver e o amor de uma nova família.

Ter tido oportunidade de voltar para reparar os erros, e resgatar as vidas que foram destruídas, fizeram Laís entender o verdadeiro sentido da vinda ao mundo que é VIVER POR UMA MISSÃO DE AMOR.

Na verdade é muito se torna mais fácil e confortável para a alma fazermos as pessoas felizes. Basta deixarmos as insignificâncias de lado.

Com isso Laís encontrou forças para fazer um conserto no seu presente também. O marido passou a freqüentar um grupo de apoio, para sair do vício, e conseguiu. Quanto ao filho Lucas, a este foi dado muito amor e bastante diálogo que o ajudou a ser melhor. Retomando a minha missão de vida, e o reconhecimento dos seus erros, pode compreender o objetivo de viver

.Nossa vida é missão de Amor. Ela só se completa na prática do bem. E só podemos concretizá-la vivendo, descobrindo a razão de estarmos aqui. Porque ninguém nasce para fazer um estágio, um teste. E sim com um objetivo, por isso, Deus nos criou diferentes. Gente é singular. Ele nos proporcionou dons. Fez a noite e o dia, isto é, o tempo para podermos ter chance de colocar em prática nossa função. E só se vive quem caminha e busca nos sonhos esperança. Porque todo caminho tem uma direção, e toda direção nos leva a um lugar. Basta estarmos alertas quanto à direção a seguir; se é a certa, ou se precisamos voltar e retomar tudo de novo. Para descobrirmos valerá os olhos da razão. Na dúvida devemos analisar as conseqüências. Mas AMAR e ter FÉ são fatores importantes.

Tete Crispim
Enviado por Tete Crispim em 24/02/2009
Reeditado em 04/10/2010
Código do texto: T1455267
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