CARNAVAL GUERREIRO

CARNAVAL GUERREIRO

Entre os anos trinta a quarenta, o carnaval era comemorado de uma maneira especial na Vila de São João, porque durante aqueles três dias a comunidade parava seus afazeres e dedicava todo o seu tempo as alegrias e divertimentos próprios da época; a diferença estava no modo de brincar, começava de maneira normal.

No primeiro dia os blocos e ranchos saiam as ruas cantando e dançando as marchinhas e sambas da ocasião, tudo simples e lindo e sem nenhum problema, era o carnaval tradicional e muito bem comportado, os rapazes fantasiados de piratas, palhaços e outras mais e as moças vestidas de camponesas, fadas, dançarinas etc.

Ninguém saia com qualquer vestimenta que ofendesse os bons costumes e se os rapazes bebiam pouco álcool, as moças nada bebiam além de guaraná ou ponches de frutas, e com isso se garantia a paz durante os desfiles, os mais abonados levavam um Lança Perfume Rodouro para perfumar as jovens.

E assim acontecia nos dois primeiros dias, porque na chamada Terça Feira Gorda, mudava tudo, porque o Boi entrava na festa e era bem assim: o Boi era uma armação de bambu trançado formando o corpo encimado por uma caveira do Boi toda enfeitada de fitas e flores e um tecido alegre cobria os bambus.

Dois homens fortes entravam na armação e movimentavam o Boi; atrás vinha o cortejo com boiadeiros, toureiros, palhaços, dançarinas e a figurante principal que era a Catirina dona do Boi, fechando o a alegre desfile vinham os batuqueiros fazendo um barulho ensurdecedor com seus instrumentos.

Eram berrantes, tambores, reco-recos, cuícas e pandeiros e as vozes de homens e mulheres cantando sempre esse refrão: esse boi é bunito ei boi, esse boi é brabo ei boi, esse boi é pintado ei boi, pega o boi Catirina ei boi e lá na frente o Boi investia no povão que corria, ria e se divertia fazendo coro no ei boi.

Até ai tudo bem, mas a Catirina era um mulato forte vestido de mulher, com a cara pintada de branco, uma peruca loura, seios enormes formados por dois mamões verdes e os grossos lábios pintados de um vermelho berrante e que na realidade se chamava Sebastião, mas tinha um apelido que odiava.

O apelido do Sebastião era Retegé e ele virava fera quando alguém o chamava assim; antes da saída do Cortejo do Boi, o chefe da brincadeira avisava a todos para não se lembrarem do apelido do Sebastião de maneira nenhuma, todos prometiam e o cortejo saia em paz e com muita animação.

Depois de bons goles de cachaça um gaiato se esquecia da promessa e cantava: pega o boi Retegé ei boi e estourava a guerra, porque o mulato tirava a saia da Catirina e partia aos murros e chutes em quem aparecesse pela sua frente e o povo que tinha lá as suas rixas aproveitava a ocasião.

Em pouco tempo todo mundo batia em todo mundo, era aquela correria e gritaria infernal até a pouca policia do lugar aparecer para acabar com o tumulto, mas o jeito era dar tiros para o alto, porque era pouca policia para muito cidadão, ao som dos tiros a situação era controlada, os feridos retirados e o Boi seguia em frente, com o povo cantando; Esse Boi é bunito ei boi, pega o boi Catirina ei boi...

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 23/02/2009
Código do texto: T1454412
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