É TUDO CARNAVAL
É TUDO CARNAVAL
Sandrinha era delicada como seu nome: meiguinha, engraçadinha, bonitinha, docinha e por tudo isso era a jovem mais apreciada da cidade de Porto dos Lusos; para ela não faltavam agrados e pretendentes, mas ela se escondia na sua apreciada timidez, sempre junto de Julieta, sua orgulhosa mãe.
Com dezoito anos aquela doce criatura não tinha namorados e era citada como exemplo pelas mães de família para suas filhas, que diziam: prestem atenção em Sandrinha meninas, porque ela é um exemplo de moça de bons modos, essa é a filha que toda mãe pede a Deus, Julieta é um mulher abençoada e feliz.
As repreendidas não gostavam nem um pouco dessa conversa e comentavam: essa Sandrinha é uma sonsa, qualquer dia desses ela vai aprontar e muito feio, quem viver verá e nossas mães vão ter de morder as línguas e se desculpar conosco e essa será nossa vingança, mas nada mudava e elas esperavam.
Dois anos depois a situação mudou de uma maneira radical, Sandrinha ficou misteriosa, sumia por horas e ao chegar dizia a sua mãe que estava passeando nos campos em comunhão coma a natureza e ela acreditava na explicação da filha, porque seria um absurdo duvidar da palavra daquele poço de virtudes.
O ano terminou e o novo ano chegou e com ele chegou o carnaval, com toda sua alegria e destemperos e foi ai que a verdade veio a tona, Sandrinha de tímida e santa não tinha nada, porque no sábado de carnaval ela fugiu com o doutor Silvio, médico do pequeno hospital da cidade, que era seu cunhado.
Quando a noticia se espalhou foi um susto e ai se explicaram seus passeios pelos campos, a natureza com a qual ela comungava era o marido de sua irmã Helena; sua mãe Julieta tentou culpar os excessos do carnaval pelo acontecido, mas sua explicação só serviu para ofender e irritar sua abandonada filha Helena. Depois de algum tempo o doutor Silvio voltou e procurou a esposa tentando se justificar com a velha historia dos excessos carnavalescos, mas ela o enxotou a vassouradas, dizendo: suma daqui safado e volte para a vagabunda de minha irmã, vocês se merecem e por enquanto adultério não faz parte do carnaval e sim da falta de caráter.
As jovens da cidade chamaram suas mães as falas, perguntando: e agora como fica a santinha de vocês? Na saia justa tentaram empurrar o mau jeito para o carnaval, mas não colou e as jovens entre risadas disseram: tudo agora é carnaval não é? Até safadeza mudou de nome, se chama : excessos carnavalescos.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA