INTENÇÕES E ILUSÕES
Quando toquei sua fronte, percebi que me respondeu com um murmúrio de um afã ensurdecedor. Tocou-me a alma, lá no fim, na gaveta mais secreta, no canto mais profundo.
Murmurou algo que não tem sentido lingüístico, mas a intenção do som, ah! Esta era claríssima, como se falado em mil línguas.
Pensei: meu deus que mulher é essa. Tão desejosa. Tão carente e solicita. Senti-me amado, desejado. Queria ouvir mais. Beijei-lhe o pescoço, então, lá vai o som de novo. Provocante e convidativo. Quis toma-la em meus braços, mas me contive. Iria deturpar aquela cena. Rocei-lhe os cabelos e ela respondeu com um maneio de cabeça. Soprei o ouvido, me fez um hummm lascivo e lancinante!
A muito não tinha uma mulher assim, tão clamante e intensa. Eu fui, mas só até o ouvido. Balbuciei palavras cálidas em um dialeto esquecido pelo o homem: o amor.
Virou –se na cama, como se dissesse: agora vai! No outro ouvido. Não a desapontei. eu estava louco
Entrei ali com outra intenção e ela me usurpou as intenções. Maldita! Sou fraco. Não! Sou carente.
Ah! Há quanto tempo uma mulher não me deseja assim.
De repente, ela me chamou de um nome. Não sei bem qual, mas não era o meu,
Cai num abismo de realidade.
Tolo! Não era eu o destino de suas suplicas. Era apenas um ouvinte intruso, que se mascarou de alvo do desejo, e como um Ícaro, achou que fosse dominar os céus. Senti-me o ultimo dos homens. Cai em minha insignificância. Resignei-me
Pé ante pé, peguei o que vim buscar. Umas jóias, dinheiro, celular e mais algumas quinquilharias sem valor, alcei um vôo rápido a janela mais próxima e fugi como um bom ladrão que sou. Entrei na noite, com meus bolsos cheios de riquezas vãs mas a alma vazia, entregue ao cadafalso. Entrei como para nunca mais voltar, outra vez..