- Gravata-Borboleta -
A estação de trem estava vazia, como era de se esperar,muito calma, morta, surreal... Diferente da última vez que estivera ali.Fiquei parado, olhando para os trilhos enquanto pensava no coelho branco e em seu cigarro que queimou solitário entre os dedos felpudos nos segundos que se seguiram depois de sua indiferença.
O silêncio era perturbador na estação, podia ouvir o tic-tac do relógio redondo preso por uma aste no alto, um pouco abaixo da cúpula coberta de fuligem, o plic-pilc da água que escorria do guarda-chuva, o chiado de alguma coisa que se aproximava.Nada daquilo parecia mudado, nada parecia querer mudar. Ouvi o chiado cada vez mais próximo, até que o trem sacolejando, monoliticamente, apareceu como uma cobra de metal acima do peso com olhos amarelos redondos.Pombos voaram assutados, o trem parou chiando... Parecendo cansado.
No mesmo instante... Uma pequena pena, sobrevoou o corpanzil metálico girando no ar, até cair na superficie de uma poça dá'gua, as pessoas passavam apressadas, apesar disso, suas atenções não estavão voltadas para a pequena pena que como um nau diminuto navegava na poça d'a'gua. O interesse dos demais por aquela imagem propriamente comum, parecia comparativamente tão reduzido que se julgava autorizado a apresentar-se como modelo de inexatidão e superioridade.Enquanto tudo ao meu redor acontecia sem poder ser impedido, sujeito a lei dos acontecimentos...
Continuei parado observando a pena, empertigado em minha gravata-borboleta.