Via o sol nascer de madrugada, o galo cantava anunciando mais um dia de luta, era hora de começar, a lenha queimava no fogão , um cheiro bom do café, o pão sovado com aquelas mãos que sabiam fazer tantas e tudo. Ela tinha um dom, o dom de ser mãe, cuidar dos oito filhos não era tarefa fácil, mas a facildidade de antes estava em ser tempos melhores, o olhar educava, não precisava  mais nada. Ele, com sua coragem amadrugava-se, vestia-se, arrumava a garrava com a água guardada no pote de barro, que delícia aquela água da mina, tomada na caneca, aquela água que saciava, a sede dos longos dias de trabalho, que esfriava o corpo do sol, jogada  na cabeça, quando as forças não aguentavam...
     O ano todo era aquela luta, todos se empenhavam, pegavam as enxadas, as vassourinhas de varrer troncos, e assim seguiam  para a tão esperada colheita do café, colheita dos grãos que valiam ouro, que valiam vidas, que valiam o pão...
     Tantas vezes,Ela e a caçula, levava a comida nas marmitas, e tão gostoso era comer na marmita debaixo dos pés de mangas, há as mangueiras, fileiras enormes que na sua época cobriam o chão de sol, o riso amarelo das crianças...
     O ano todo era aquela luta, de ver madrugadas amanhecerem, o ritual,  (ruas de pés de café)que cada um dominava, "ruava","panhava", "abanava com a peneira, O varrer tronco era o mais perigoso, o medo de encontrar as tão famosas taturanas, e medos das histórias já contadas... Não era trabalho fácil, apesar de dá-los a caçula, que corria, por entre os pés de café, se escondia, brincava. Depois de colhido, o gostoso era brincar no terreirão, lugar onde sempre punham o café pra secar...E broncas levadas, até o dia da surra , ai caçula atrevida, que colocou um café no nariz, às pressas ao hospital, o desespero da mãe, mas tudo acabara bem...
     A noite era a hora do terço, as rezadeiras da colônia batiam de casa em casa, após o terço só era crianças brincando, correndo, cantando, havia o violão, que entoava os hinos da igeja nas rezas que faziam chorar o coração.Ela tão devota, tão santa, abençoada, pedindo sempre pelos filhos...e havia os chás servidos pela casa que acolhia a reza.
     Quando o silêncio abatia a noite, e todos em seus leitos esperando por um novo amadrugar, era suas mãos calejadas que afagavam -lhes os rostos, os abençoavam.
    O dia bom era o dia do fim da colheita, reuniam-se os vizinhose todos da colônia partilhavam o grande momento, o fim da colheita era a data mais esperada do ano, era o dia da grande festa, dia do guaraná na garrafa, com furinho na tampa, dia da cerveja, do churrasco, e dos manjares coloridos que sempre enfeitavam a geladeira...
     O dia da colheita era inesquecível, ali as noites viravam madrugadas, mais uma das tantas vistas por Ele, mas ali era momento de festa, e não se importava em acordar no outro dia, olhava ao redor, abençoava a família, olhava pro céu e agradecia, as lágrimas escondidas caiam, mas a caçula observava, mas não se importava, pois era a única época que se tomava o guaraná, e ela nem entendia, só queria brincar...
Marcia G
Enviado por Marcia G em 12/02/2009
Código do texto: T1436292
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.