Empurre pra lá ou puxe pra cá a culpa é do DNA
Num apartamento de classe média alta, num bairro chique de Sbornialândia, o pai chama seu filho para uma conversa séria, olho no olho. Sentado em frente ao pai o rapaz observa a elegância do escritório. Era a primeira vez que entrava naquele ambiente do apartamento e ficava imaginando quanto seu pai teria sonegado de imposto para montar aquele escritório; e a boca ensaiou um sorrisinho maroto. Sentado em sua cadeira de espaldar alto o pai observa o filho com um ar orgulhoso; homem feito, físico privilegiado esculpido em academias, bronzeado perfeito, dentes idem. E o pai estaria imaginando quanto aquela perfeição estaria lhe custando. Mas era como estar se vendo e isso o agradava demais. E um sorrisinho igualzinho ao do filhote surgiu em seus lábios. Filho, começou o pai. Preciso que você tome conhecimento de algumas coisas importantes. Não vou durar para sempre e é preciso que você se inteire das coisas. Nossa condição financeira é sólida e não vem exclusivamente do nosso negócio legal, pois com ele não seria possível termos o padrão que temos. Faz bastante tempo que venho, com alguns sócios, investindo no negócio das drogas. Capitalizamos uns bandidinhos pés-de-chinelo, que compram onde indicamos, comercializam e ficam com uma pequena parte, digo, ficavam pois, de uns tempos para cá eles renegaram a franquia e tomaram conta dos negócios. Resultado: o que era nosso passou a ser deles. Estamos fora. O rapaz, impassível estava impassível ficou, mas de olhos fixos nos olhos do pai. Como o silêncio reinava depois daquela explanação, o filhote querido abriu um sorriso enquanto fazia um gesto largo e disse. Não esquenta, pai. Também preciso dizer uma coisa para o senhor. Como raramente a gente se via e como nunca tivemos um papo maneiro e proveitoso como esse de agora, fui crescendo e agindo por minha conta. Quero comunicar que eu também estou nesse ramo de negócio já faz um tempinho. Tenho meu próprio grupo e nós mesmos compramos e negociamos, sem intermediário que é pra não diminuir o lucro. Estamos tirando o espaço daqueles manés dos morros; aqueles que deram a beiçada em você e seus sócios. Ta vendo, pai? Filho de peixe.....E riu uma risada escancarada. Abriram um champagne para comemorar a feliz hereditariedade
II -
Algum tempo depois, num salão chique de uma casa chique na mesma Sbornialândia, várias senhoras chiques comemoravam com acepipes vários e chá o aniversário de dois anos do cãozinho da dona da casa, que mostrava orgulhosa o colar de brilhantes que comprou para seu bichinho de estimação. Foi quando a notícia em edição extra na tv chamou a atenção de todas. Um bando de jovens de classe média alta havia sido desbaratado e preso pela polícia especial. A transmissão era ao vivo de um prédio chique que foi reconhecido de imediato por uma das senhoras chiques. Esse é o prédio onde moro... e aquela camiseta eu também conheço. Meu Deus do céu!!! É meu filho. Tem algum engano acontecendo. E a senhora chique saiu apressada, mas sem perder a compostura, altiva. Nesse mesmo momento o pai assistia de seu escritório a cena do filho sendo preso por tráfico de droga, formação de quadrilha e tráfico de armas. Socou a mesa, dizendo. Burro!!! Cara burro!!! Muito burro !!! Puxou à mãe. Só pode.