Escolinha do Professor Cristóvão

Professor chega à sala de aula e encontra apenas quatro alunos:

Professor: — Bom dia, pessoal. Quero pedir desculpas pelo meu atraso, é que eu estava me preparando para uma festa...

Professor percebe o número de alunos e comenta:

Professor: — Nossa! Cadê o resto da turma?

Luciana (com voz nasalada): — Professor Cristóvão, esse povo não quer nada com a vida. Eu sou a mais dedicada dessa sala, sou pobre, viajo de longe todo dia para estar aqui para aprender e encontro essa sala vazia com esse povo desinteressado.

Professor: — É isso mesmo, Luciana, mas vamos começar a aula. O que tivemos na aula passada mesmo?

Luciana: — O senhor faltou na aula passada.

Professor: — É verdade, então vamos ler um texto qualquer, peguem aqui em cima da minha mesa e vamos ler.

Alunos se levantam e pegam uma folha de papel na mesa do professor.

Professor: — Leia o texto, Adalberto.

Adalberto começar a ler o texto e professor interrompe.

Professor: — Qual foi o resultado do jogo de ontem, hein?

Juarez: — O São Paulo ganhou. Gol do Rogério.

Professor: — Filho da puta...

Juarez: — Golaço, hein, de falta...

Professor: — Quem fez a falta?

Juarez: — Dininho.

Professor: — Esse safado não joga nada e ainda atrapalha o jogo. Sim, mas continue esse negócio aí, Adalberto...

Adalberto continua lendo e, de repente, toca o celular do professor:

Professor: — Só um instante...

Professor começa a falar ao celular e dizer expressões como: “sim”, “não”, “certo”, “depois”, “tudo bem”.

Professor: — Minha mulher, sabem como é, né?

Juarez: — Sei, inclusive a minha está ligando agora aqui também, espera um pouco, professor.

Juarez conversa ao telefone, usando os mesmos tipos de expressões que o Professor utilizou. Então, passa-se um tempo e ele desliga.

Professor: — E então, o que ela queria?

Cicrano: — Ah, era só...

Luciana (interrompendo, agora irritada acentuando sua voz nasalada): — Olha aqui, professor! Eu sou pobre, me dedico a vim aqui todo dia pra estudar porque moro longe e não pra ficar ouvindo história de...

Professor (interrompendo): Espera aí, minha filha. Vamos agora para os comerciais e voltamos já, com a nossa escolinha do professor Cristóvão.

Apresentação de comerciais.

Professor: — Esperem um pouco... estão percebendo como a Carlinha está calada hoje? O que foi, minha filha?

Carlinha (o mais dócil e meiga possível): — Não é nada, professor.

Professor: — Gente, já perceberam como a Carlinha está bonita hoje? Não é?

Carlinha sorri, com vergonha.

Professor: — E o maridão, tá dando conta do recado?

Professor ri alto.

Carlinha (envergonhada, com a cabeça baixa, vermelha): — É...

Professor: — Se ele não estiver dando conta, me avisa, que eu dou um jeito nisso.

E ri mais alto ainda.

Professor: — Mas, vamos voltar ao texto, continue aí Adalberto.

Adalberto, mais uma vez, continua a ler o texto, até ser interrompido:

Professor: — Pare bem aí, meu filho. O que vocês estão achando desse texto? Eu quero que vocês interpretem segundo o ponto de vista de vocês.

Luciana: — Bom, professor, eu já li o texto e é muito interessante a perspectiva que ele dá para o...

Professor (interrompendo): — É verdade, minha filha, isso tudo que você disse é verdade. E você, Juarez, o que acha desse parágrafo?

Juarez (pensativo): — Ah! Eu acho que está certo o ponto de vista da Luciana.

Professor: — Interessante a sua resposta.

Professor fica balançando a cabeça afirmativamente, e olha um pouco para cima, com a mão no queixo, como se estivesse pensando.

Professor: — Sabem vocês que... (em tom pensativo e sério, bebe um pouco de água) Adalberto... e sua mulher? Já voltou pra casa?

Adalberto (baixando a cabeça): — Não, professor. Ela nem me liga mais.

Professor: — É assim, mesmo. Mas, bola pra frente, vamos continuar lendo o texto para esquecer.

Adalberto continua lendo e é novamente interrompido pelo professor:

Professor (espantado, olhando para o relógio): — O quê?! Já são nove e meia! Olha pessoal, vou liberar vocês só uma horinha mais cedo, porque tenho que pegar minha mulher no cabeleireiro. Não tem problema pra vocês não, né?

Todos ficam dizendo que não, fazendo gestos de negação, exceto Luciana:

Luciana: — Mas, professor...

Professor: — Obrigado, na próxima a gente continua, tchau pessoal...

Professor vai saindo pela porta e vira pra câmera e diz:

Professor: — E a mensalidade que você paga ó...

E faz o gesto abrindo as mãos, ao contrário do Professor Raimundo.

Fecha a tela e aparece um texto:

Esta é uma sátira sobre a qualidade das aulas nos ensinos da Faculdade CEUT e outras faculdades particulares e públicas do estado do Piauí. A coordenação do curso de comunicação social do CEUT trata com descaso e desrespeito os alunos e o curso. Os professores apoiam essa prática ensinando de forma relaxada e preguiçosa. Os alunos também não escapam à culpa, aceitando a situação em que são tratados como palhaços e não brigando por mudanças no sistema de ensino. As outras faculdades por todo o Brasil não diferem tanto no problema.