@@ amor cigano @@


Seu passeio era vazio. Descalça, andava pelo acampamento e tantas vezes sem perceber,se afastava demais perdida em devaneios.Gostava de contemplar a natureza, que era muito dela mesma. Não havia mais urgência em sua vida. O tempo lhe era indiferente.

Era sempre assim. O acampamento já nada mais lhe dizia, desde o fatídico dia em que Carlos, seu grande amor, fora de lá afastado.

Quem eram eles para saber o que seria melhor para ela? Por que uma cigana não poderia se apaixonar por um homem normal? Por que?

Não, ela não se conformava com isso. Fazia agora 5 anos em que vira, pela última vez, o único homem que amara, o único que desejara e fizera seus olhos brilharem de paixão. Quando novamente poderia sentir tão grande amor?

Mas fora perseguida, arrancada dos seus braços como quem arranca uma erva daninha.

Naquela noite, dançava  numa festa do acampamento. Descalça, cabelos longos e soltos. A pele macia e bronzeada  brilhava ao luar em sua delicada liberdade de ser. Parecia não ter noção da sua extrema sensualidade, do poder dos seus olhos e do fascínio da sedutora boca, que sorria alegremente para os seus. Os quadris acompanhavam a música que parecia sair de dentro dela. 

Ele estava no terraço da fazenda.  Eram exatos 5 anos desde que partira, desde então,  não visitara seus pais. Viera matar a saudade, já que, como médico, não tinha muito tempo para sair da cidade. A esposa, também médica,  havia ficado, pois não podia se ausentar naquele momento.

Carlos se lembrava com tristeza, da última noite que ali passara. Tinha ido ajudar ao seu pai a cuidar da fazenda, quando se apaixonara perdidamente por uma bela cigana.
Ao serem descobertos, seu próprio pai havia mandado avisar no acampamento para que Madalena se afastasse do seu filho, caso contrário, daria um jeito de escorraçá-los dali, pois tinha poderes para tal.

Sabendo disso, o irmão dela,  Tiago, com ciúmes e humilhado, arrancou-lhe numa tarde dos braços de Madalena, que em prantos tentara convencê-lo do seu amor.

Desde essa tarde só se via o sorriso da bela cigana, quando, esquecida do mundo, dançava nas festas do acampamento.

Vendo seu filho definhar de tristeza, o pai 
resolvera mandá-lo novamente para a cidade. Lá então ele se formara em Medicina e casara com uma moça da faculdade, enganando seu próprio coração, que jamais sentira amor igual ao que sentiu por Madalena...

De repente, ao ouvir o som da música, dirigiu-se curioso para o lado do acampamento. Ouvia risadas. Pensou em voltar. Estariam eles ainda por ali após tantos anos?  Não acreditava que eram eles, mas, seu coração resolveu seguir o som da música.

Enfim se aproximou aos poucos, ficando ali, atrás da árvore. Buscava reconhecer as pessoas quando seus olhos finalmente a encontraram. Ficou imóvel, fascinado. O coração parecia que ia saltar pela boca. Teve cuidado para não ser visto, mas lá ficou até que todos se recolhessem. Viu quando ela entrou em sua cabana e ficou imaginando como seria conversar com ela novamente, olhar nos seus olhos depois desses anos...

E perdido em pensamentos ficou. Decidiu que desejava, do fundo do seu coração, falar com ela, nem que fosse pela última vez na vida. E assim esperou o dia amanhecer. Despertou com o sol batendo no rosto e olhou para a cabana. Era muito cedo, ela ainda deveria estar dormindo.

Madalena enfim saiu para seu passeio. Ele, com o coração aos pulos, a seguiu.

Como sempre fazia, foi ao rio se banhar. Ele, chegando perto, sentou-se na areia e esperou que saísse. Estava linda, mais ainda do que poderia lembrar.

Ao sair da água ela o viu. Assustada, cobriu seu corpo molhado, tremendo de emoção e frio. Não era possível! Estaria vendo coisas?

Ele, como que para provar que era real, correu para os seus braços, beijando-a sem dizer uma palavra. Pareciam querer matar a saudade naquele único momento.
Os beijos e abraços já não se continham e loucos de desejo, fizeram amor ali mesmo, na  areia.

Ficaram abraçados e só aos poucos voltaram à realidade.

Ele havia saído de casa na noite anterior e todos já estavam preocupados. Tinha que voltar. Mas como deixar Madalena? Tanto sonhara com esse reencontro. Não podia. Agora tinha certeza de que Madalena era o único amor da sua vida. Não a perderia novamente.

Não podiam enfrentar o irmão dela e nem mesmo a vida organizada que mantinha com a esposa.

Juntos tomaram uma decisão: ela iria com ele para a cidade e lá ele a colocaria em um apartamento até que resolvesse sua separação. Começariam uma vida juntos. A vida que sempre sonharam.
 
O pai, dando por falta dele desde a noite anterior, pediu aos empregados que o procurassem. Sabendo ele da sua grande paixão por Madalena, mandou que fossem antes de mais nada ao acampamento.

Mas Carlos já estava voltando e inventou que havia passado mal quando alguém o carregou e não deixou que voltasse na noite.

No dia da sua volta, Madalena arrumou a única bolsa de tecido que tinha, com sua pouca bagagem e se encontraram para que seguisse com ele. A viagem longa foi maravilhosa, tornando-se curta entre tantos beijos e carinhos.

Já na cidade, a primeira coisa que Carlos fez foi acomodar Madalena até que resolvesse sua separação.

E assim, todos os dias dava um jeito de ficar com ela, matando a saudade que agora sorria de felicidade.

A separação foi dolorosa, mas ele estava decidido. Não tinha filhos, a esposa, ainda jovem, poderia se apaixonar novamente e ser feliz com alguém que realmente a amasse.

Queria ser feliz ao lado da única mulher que amou, porque não?

No acampamento a notícia da fuga de Madalena caiu como uma bomba, mas no fundo, seu irmão sabia que ela tinha ido buscar sua felicidade.

Carlos e Madalena venceram os preconceitos e as acomodações que a vida os impôs, mas descobriram que realmente poderiam ser felizes, acima de tudo e de todos.


Bem, o final ia ser trágico. Eles iam ser pegos juntos e Carlos morreria, mas esta é a vantagem de ser a "dona" do conto (rsrs). Eles foram....... como é mesmo????


Foram Felizes para Sempre!!!