NA PONTE DO GALO

O trânsito estava infernal, sob um sol estonteante, sentido tanto pelos pedestres, quanto pelos motoristas.

No outro lado da rua, tentando atravessar a Senador Lemos estava uma senhora bastante idosa, que parecia não enxergar direito.

O Sinal fechava e se abria; passavam pessoas, cães e gatos e a senhora continuava lá.

Uma moça bem vistosa, num carro conversível, cor preta, com películas espelhadas, que assistia aquela mesma situação pela sua segunda passada naquela rua. Compadecida, resolveu estacionar o seu carro no meio fio e ajudar aquela pobre senhora.

Toda de blazer, pulseira e relógio de marca, celular de última geração, um perfume gostoso misturado a um ar simples, fizeram com que a moça se aproximasse sem ser temida pela senhora humilde, dizendo com sua boa educação:

- Bom dia vovó!

- Bom dia minha filha! Respondeu a senhora.

- A senhora está precisando de ajuda para atravessar a rua?!...

- Sim, minha filha! Só que não entendo bem a direção. É carro indo e vindo e como sou lerda o sinal abre e esses loucos não querem saber quem vai passar!

- Então a senhora me acompanhe.

A senhora segurou no braço da moça e juntas, quando o semáforo favoreceu, atravessaram a rua. Agradecida a velhinha abraçou a moça, beijou-a no rosto e seguiu vagarosamente por uma das estivas do lugar.

A moça contente por ter feito uma boa ação seguiu de volta ao seu trabalho, e quando lá chegando, alguém abordou-a perguntando:

- Silvia que horas são, por favor?!...

- São!?...

A moça, coitada foi ao chão. Desmaiou e acordou no pronto socorro municipal ainda sem acreditar que tinha sido surrupiados, o seu relógio e sua pulseira. E quando deu por falta também de sua carteira, de seu celular entrou em desespero e foi parar na delegacia. A polícia por semanas deu sua batida no lugar, mas não encontrou ninguém por lá. Nisso, numa das pontes do Galo andando ligeiro, com o riso estampado na face, como quem tinha ganhado na loteria, dona Zulmira, a vovozinha, cantava feliz da vida, afinal naquele dia, a mais ou menos, uma semana tinha alguma coisa para matar a sua fome e de seus netinhos.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 09/02/2009
Reeditado em 17/01/2013
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