Nota de falecimento
Talvez o problema não seja as coisas que eu tenha feito, e sim aquelas que eu deixei de fazer, talvez as responsáveis por meus problemas sejam as coisas que eu não falei, e não aquelas que eu disse, e que por algum momento magoaram alguém, as risadas que não dei, os dias que não vivi e as pessoas que não conheci. Talvez meu único problema seja ter me privado de mais de momentos que não poderei mais viver, ou ter medo de dizer EU TE AMO, medo de gritar, de correr, medo que me fez perder parte da minha vida, medo que me prende em lugares que eu não gostaria de estar, mas que de medo não consigo sair ou mesmo mudar.
Perdemos tempo, pensando demais, temendo demais, protelando demais e com isso a vida passa e nós passamos por ela sem viver, e com isso passam-se as oportunidades de ser feliz. Ora, aquele que não vive não é lembrado, sua lembrança se perde entre as coisas do mundo, Será que quero um fim como este, será que quero ser esquecida, e ao passar pelo mundo ser lembrada como apenas mais uma, ou nem ser lembrada?!
Deves estar a perguntar-se caro leitor, porque vos digo isso hoje. Então deixe-me contar desde o início os motivos que me levam a escrever. Levantei-me às sete da manhã tomei meu café, já estava atrasada, tirei o carro da garagem e fui trabalhar. Entrei no escritório e peguei o jornal, quando ia me sentando para ler o telefone tocou. Atendi, Caroline comunicou com voz desesperada. Emanuel havia morrido. Meu coração bateu acelerado, senti a garganta apertar.
Peguei o carro novamente e fui para o velório. Contive as lagrimas, porém não agüentei ficar muito tempo. Emanuel sempre foi meu grande amigo, era completamente normal, trabalhava tinha filhos era alegre e bonito. A vida dele era completamente normal, ou talvez ele fosse normal de mais para a vida. Vê-lo ali em seu leito de morte, gélido e inerte foi a pior coisa que já vivi.
Fui do velório direto para o apartamento, precisava me distrair liguei a televisão e acabei por cochilar. Acordei e era manhã de sábado, peguei o jornal na porta de casa e me sentei para ler. A princípio a manchete não me interessou, folhei as paginas parando para ler uma ou outra coisa e me deparei com uma pagina onde havia notas de falecimento. Tomei fôlego e comecei a ler.
“Nota de falecimento – Faleceu na ultima sexta-feira o advogado Emanuel Partellin, com apenas 30 anos, o enterro será no cemitério municipal às nove horas deste dia. ” Palavras medíocres, havia muita mais em Emanuel do que aquela nota medíocre.
Agora então eu lhe pergunto como gostaria de ser lembrado caro leitor, como uma pessoa que viveu muito e fez grandes coisas, que amou, que ajudou o mundo de alguma maneira, ou como Emanuel, que viu a vida apenas. Talvez isso não faça sentido, mas como você gostaria que sua nota de falecimento fosse escrita? Lembre-se de que cada pessoa escolhe como gostaria de ser lembrada. E você, “como gostaria que fosse escrita a sua nota de falecimento”?