***Alem do Véu***XVI

*Revelações*

Impossível dizer o que senti, por tudo no mundo queria acreditar que aquilo era uma grande piada, mas só de olhar para Amir eu sabia que era verdade. Faz dezessete anos e não consegui superar de todo essa dor, e foi por isso que voltei, superei muitas coisas que julgava serem impossíveis, enfrentei minha família, abri mão de minhas crenças, deixei minha terra, encarei um mundo cruel que jamais havia pensado em encarar, passei fome, apanhei, perdi amigos e em certas ocasiões até a dignidade e tudo faria de novo, mas traição não iria aceitar, em vão foram as lágrimas e suplicas de Amir, nada poderia me fazer ficar mais um minuto sequer ali.

Surah diz que devo perdoá-lo, mas não consigo, nem mesmo quando há cinco anos atrás recebi uma carta com a notícia de sua morte.

Hoje recordando de tudo isso, me sinto vazia por dentro e ao mesmo tempo um peso que não consigo compreender; Meus pensamentos são interrompidos por uma carruagem que vem se aproximando, os portões se abrem, dela desce uma mulher de vestes longas e véu, meu coração dispara, não pode ser! Desço as escadas as pressas, mas paro antes mesmo de chegar ao térreo, afinal já não sou mais jovem, puxo o ar com força, será que é real o que vi, ou estou tão velha a ponto de meus olhos estarem me enganando? Continuo o caminho até o pátio, a mulher esta lá a me esperar, me aproximo devagar, lentamente ela levanta o véu, mesmo sabendo quem era desde o inicio, não pude evitar uma exclamação de surpresa.

---Lisa!?

---Hainan.

---O que faz aqui?

---Eu disse que um dia voltaria, lembra?

...

---Você tem toda razão se não quiser me receber, mas preciso lhe dizer algo.

Talvez por não saber ao certo como agir, convidei-a a entrar.

Depois de acomodada, e ter tomado uma xícara de chá, Lisa falou:

---Hainan, Amir era inocente.

Como eu não disse nada continuou: --Ele não era o pai da criança, na verdade eu nem sei quem é.

Olhei para ela sem entender o que dizia, seus olhos estavam úmidos de lágrimas.

---Naquele dia quando ele voltou da comemoração dos shiar, você dormia, ele estava todo feliz porque conseguira o salvo-conduto, queria te acordar para lhe da a noticia, mas convenci-o de não faze-lo, alegando que você mal dormira, o que foi verdade; então tive oportunidade de falar com ele a sós, contei a ele que esperava um filho e o forcei a aceitar a paternidade, entende? Agora as lágrimas rolavam abundantemente por sua face. Eu o ameacei, disse que se não assumisse meu filho, te entregaria ao Abner, uma vez que você era uma fugitiva da lei e estava condenada a morte.

---Porque? Diz-me, porque fez tudo isso.

---Pelo meu filho, você sabe como um filho bastardo é tratado ali.

---Mas nós íamos embora, não íamos?

---E meu filho ia ter de viver em cabanas na margem de um rio, num país estrangeiro e sem pai? Não eu não ia deixa-lo sofrer como eu mesma sofri, com ele ia ser diferente, afinal ele era um escolhido; quando criança não queria ter filhos porque achava que seria muito cruel para com ele ter de arcar com as responsabilidades de um Fasulah, sem ter o direito de escolher, talvez fosse por isso que os lideres sempre eram tiranos, simplesmente porque não tiveram opção de serem outra coisa, mas depois que aconteceu de eu engravidar passei a ver as coisas diferentes, passei a ver quantas oportunidades ele não teria sendo um fasulah, ser um fasulah para mim não era mais estar preso a obrigação de comandar um país e sim ser livre para estar acima da lei, mas para isso ele iria precisar de um pai, para ser respeitado, um pai para ajuda-lo, e tinha que ser o melhor pai.

---Amir foi um bom pai, perguntei sem consegui controlar as lágrimas que desciam livremente por minha face.

Lisa balançou a cabeça afirmativamente. –O melhor, nunca o maltratou ou qualquer coisa do tipo, ele nunca te esqueceu também, embora mal nos falássemos, mas eu sabia, via em seus olhos que jamais seria feliz sem você.

sutini
Enviado por sutini em 06/02/2009
Reeditado em 28/04/2009
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