Não há epílogo para o amor
As cortinas estavam para se fechar e muita coisa ainda estava por ser dita. O espetáculo era ainda inacabado, acredite. O espetáculo mal fora começado. Ao ver o fim, logo se pensam nos erros e não nos acertos, no que poderia ter sido melhor, mas não no que foi praticamente perfeito, no que não foi conquistado, porém não nos trunfos da existência, mesmo que essa seja tão breve. As cortinas se fecham para todos e o espetáculo não pode ser reescrito, apenas lembrado, então ao menos que seja lembrado com a glória que merece, mesmo que este nada tenha de glorioso.
Com apenas 18 anos Sandra assistia de seu leito o ato fina de sua existência, por fim o epílogo de seu livro escrito sem borracha havia chegado, mesmo lutando contra ele, sua expressão não era de um total desgosto. Da vida tinha provado poucas coisas, porém o suficiente para dizer que amou e foi amada e que no seu breve momento de estrelato foi feliz e teve também suas infelicidades.
Envolta de seu leito aparelhos, tubos, familiares estes mais agonizantes do que ela própria, uma ultima palavra foi dita. Essa ultima palavra foi dirigida ao rapaz de olhos castanhos lavados de lagrimas ao lado de Sandra suas feições eram abatidas e mesmo assim fraternas, o olhar hora perdia-se e hora voltava a encontrar os olhos de Sandra. “Amor” – apenas foi o que saiu de seus lábios e jamais houve tanto sentido em uma só palavra.
Seu corpo entorpeceu e seus olhos se fecharam. Pela última vez as cortinas vermelhas haviam se fechado para ela, e o ato final não poderia ser terminado por palavra mais bela ou de sentido mais pleno e ao mesmo tempo mais complexo. Ouvi-se apenas um grito de seu acompanhante, ao ver seu amor rendido pela morte. Muitos, horas depois o consolariam e diriam-lhe a mesma coisa, que reconstruiria sua vida, que era jovem, e a todos, o jovem dos belos olhos daria a mesma resposta. “O amor transcende a morte e não há amor verdadeiro que acabe com o fim, esse é apenas o começo de um novo modo de amar!”