***Alem do véu***XIII

*Lisa*

Dias depois soube que Lígia tentou fugir, mas Celso a encontrou, deixando-a encamada por uma semana inteira, depois disso soube que matara o marido.

---Vão executá-la amanhã de manhã. Dizia Amir, mas eu não estava ouvindo, estava chegando a uma conclusão. De repente falei:

---Não dá mais, eu vou embora, não posso mais ficar aqui eu vou voltar para minha terra.

---Eu vou com você.

---Como!? deixaria o seu povo??

---Você deixou tudo por mim, acho que agora é a hora de fazer o mesmo.

---Vamos ter de viver com os ribeirinhos, mas lá não pode ser pior do que aqui.

Havíamos planejado mudar no final daquele ano, mas uma guerra inesperada nos prendeu ali. O então regente Abner reuniu forças para “concertar” o povo arredio; Haviam outros povoados como aquele, comandados por rebeldes na maioria ex-guerreiros foragidos, mas Abner estava disposto a seu ver coloca-los na linha, agia em nome de Dior, mas na verdade o interesse era nos impostos do povo, que ao invés de irem para o governo iam para os bolsos dos shiar.

Com a guerra estávamos proibidos de sair da região, ninguém saia, ninguém entrava, Amir foi convocado a servir os shiar como curandeiro dos guerreiros, naqueles dias minha vida se resumia a ter notícia dele, era dia após dia esperando por notícias. Quando ele vinha para casa sempre ferido, cansado e até mesmo faminto, trazia-me noticias da guerra, na maioria das vezes as coisas não iam nada bem, mas havia alguns momentos de trégua, e foi num desses momentos que tivemos uma surpresa.

Numa certa noite quando já estávamos deitados bateram-nos a porta, Amir foi atender, apreensiva apurei os ouvidos para ouvir o que quer que fosse, ouvi sussurros agitados, mas nada pude distinguir, então com o coração disparado de medo, fui em direção a porta, o que vi me fez parar de chofre, olhei espantada para pessoa que estava ali em minha sala e num salto lhe abracei, ainda sem acreditar.

---Lisa?!

Estava na horta colhendo o pouco de hortaliça que havia nascido naquele verão tão abrasador, ajoelhada na terra retirava com cuidado as ervas que fariam parte da nossa refeição, ervas tão miúdas que se rasgariam ao menor descuido, o suor escorria por minha face deixando-me incomodada, ao erguer o rosto para ver se captava um mínimo de brisa que fosse, avistei Lisa recostada à janela com o olhar distante, talvez na esperança de sentir a brisa inexistente, me deti por um momento a olhar aquela jovem não mais tão menina, fazia quase três anos que não a via; Como ela mudara tanto? Não havia mais aquele sorriso doce, tão pouco aquele olhar sapeca de antes, agora o rosto estava sempre numa expressão fechada e o olhar era estranho. Há um ano e pouco atrás contando ainda com seus treze anos, Abner a dera em casamento, ela fugira da casa do marido e até então levara uma vida de errante, de um lugar para o outro sempre fugindo, ganhando o pão como rameira, talvez cansada daquela vida fora nos procurar. Era visível que ela nos culpava em parte pelas desventuras vividas, o que ficou bem claro em um dia em que fazíamos a refeição matinal.

---Depois que essa guerra acabar, podemos ter um filho. Dizia Amir cheio de esperanças, a minha reação foi diferente das outras que tinha toda vez que ele tocava no assunto, antes tentava convencê-lo que ter filhos não valia pena, não com o mundo daquele jeito, dessa vez apenas ignorei, como se ele não houvesse dito nada, mas surpresa fiquei com a reação de Lisa, que muito irritada disse:

---Pra que? Para vocês o abandonarem como fizeram a mim?

---Abandonar? Perguntou Amir sem entender direito.

---Nós não te abandonamos Lisa, nós fomos proibidos te ter ver, e depois sequer sabíamos de seu paradeiro, e além do mas, nós... Fui interrompida por ela

---Eu tinha planos sabiam? Eu acreditei que seria feliz vivendo com vocês?

---Sentimos muito Lisa. Murmurou Amir.

---Sentem muito? É tudo o que tem a dizerem? Disse isso levantando se da mesa e indo recostar-se a janela, que se tornara uma espécie de lugar preferido, um lugar de fuga para ela.

sutini
Enviado por sutini em 03/02/2009
Reeditado em 03/02/2009
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