VAZOU NA BRAQUIARIA

VAZOU NA BRAQUIARIA

Criar gado era um dos muitos trabalhos da Fazenda Peixoto; para que os bovinos crescessem fortes e bem carnudos, eram plantadas grandes extensões de pasto com o capim Brachiaria; o capim crescia e se fechava servindo de alimento para o gado e também de esconderijo para namorados e crianças travessas.

A verde pastagem se espalhava como um grande mar vegetal e quando ventava forte o balanço do capim parecia mesmo as ondas do mar, no seu bonito vai e vem; dona Senhorinha a dona da fazenda e mãe de seis garotos detestava todo aquele capim bem perto da casa grande, porque servia de esconderijo para as crianças.

Os meninos de dona Senhorinha variavam de idade entre dezoito e dez anos e o pior era que os maiores gostavam de namorar as filhas dos colonos, o que era preocupante porque ela sonhava com noras ricas e cultas, que acrescentassem riqueza e prestigio a família Peixoto e as meninas dos colonos não serviam.

O dono da propriedade Seu Norvino Peixoto, era um homem rico e de uma simplicidade franciscana, por isso não concordava com a mania de grandeza da esposa; na opinião simplista dele, o bom nesse mundo é ter saúde e ser feliz, o resto é só deixar por conta de Deus que Ele resolve tudo do melhor jeito possível.

De vez em quando a fazendeira sentia falta de um dos filhos e quando perguntava: cadê fulano? Alguém respondia: vazou na brachiaria e ela saia campeando a cria no meio do capim, mas naquele marzão verde, era impossível encontrar quem não queria ser encontrado e ela voltava muito zangada, cada vez mais preocupada.

Tempo passando, meninos crescendo e as meninas dos colonos também cresciam e cresciam lindas e espertas, se o braquiaria falasse teria muito que contar, mas capim é surdo mudo e ninguém foi informado sobre o que acontecia lá; a meninada se divertia sem pensar que tudo nesse mundo tem um preço a ser pago.

E quem acabou pagando por todos foi o Vicente filho mais velho do fazendeiro, porque em toda folga que conseguia ele vazava na braquiaria para se encontrar com Jurema e nesse vai e vem, a linda moreninha apareceu grávida e disse a seu pai que o dono da arte era Vicente, filho de Norvino.

O colono muito zangado foi se queixar ao patrão e pedir justiça, falou em justiça falou com Seu Norvino que não pensou duas vezes, chamou o filho e disse: seu casamento com Jurema sai em duas semanas, o rapaz quis falar qualquer coisa , mas o fazendeiro não permitiu e foi avisar dona Senhorinha do ocorrido.

A senhora protestou, chorou e disse que a culpa era daquela maldita plantação de capim brachiaria, mas nada adiantou e nos prometidos quinze dias o casamento saiu e Jurema foi morar na casa grande com o marido; no prazo previsto nasceu Vicentinho, um menino lindo e com o neto nos braços dona Senhorinha dizia: Louvado Seja Deus, Bendita Braquiaria.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 27/01/2009
Código do texto: T1407453
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