Sonho de Menina
Fazia calor naquela tarde do verão de 1985, tanto que os alunos se enrolavam em lençóis molhados nos intervalos da peça. Antes que a última cena fosse apresentada, a menina protagonista levantou-se, respirou fundo e uma felicidade plena a invadiu.
Mesmo depois de cessados, o eco dos aplausos ainda ressoavam,
então, eles souberam que haviam feito jus à expectativa causada.
Depois de longos minutos não havia ali mais ninguém. Os atores-mirins tinham ido, juntamente com os falantes expectadores. A menina caminhou entre os assentos vazios, com as costas eretas como as de uma bailarina e os olhos marejados. Parada sob o enorme lustre fechou os olhos e escutou.
O som que ouvia era de clarins e piano e vinham de dentro de si.
Esse era seu mundo, o mundo que queria, o mundo do qual precisava, aquele com o qual sempre sonhara...Então, ela soube que
o estranho e tortuoso caminho não poderia ser seguido.
A bolsa de estudos a esperava, em outro lugar, com outro propósito vindo da vontade de outras pessoas.
A arte se apossa das almas, a música, o palco, a energia vinda
dos olhos atentos das pessoas que assistem e aplaudem.
O sonho ficou ali, embaixo daquele teto desenhado e sobre o palco artisticamente iluminado.
"O que lembro, tenho."